terça-feira, 23 de dezembro de 2008

O exercício de esquecer de si


No mundo ensimesmado em que vivemos, proponho exercitarmos o esquecimento de nós mesmos. Difícil, principalmente no começo... O egocentrismo é uma imensa barriga que atrofia os músculos da caridade, da solidariedade e do altruísmo...
Esquecer de si num mundo que transforma relações em competições é quase um tiro no pé. Quase um suicídio...No mínimo uma loucura, uma insensatez... Corre o risco de lhe acharem meio estranho e cogitarem um internamento, ou de te abandonarem no exilio dos diferentes...E te esquecerem por lá...
Mas de que é feita a vida senão de riscos?
Se resolver encarar este desafio, aproveite o Natal, é um tempo propício, o clima é ameno, próprio para se aventurar neste novo compasso... Talvez neste período não cause tanta estranheza um gesto nobre, uma atitude mais humana... Aproveite, é uma grande chance... Como uma destas segundas em que se começa um regime...Levar a sério depois, transformar em hábito saudável e necessário é outra história, mas ninguém alcança a linha de chegada sem cruzar a da partida...
Então, faça o seguinte: respire fundo, inspire sonhos antigos da humanidade, expire a concentração de "eu" do peito e comece com dois exercícios simples: olhe o outro e escute o outro...
Ao olhar o outro, voce desvia o foco da sua atenção sobre si e, prestando atenção ao outro tem dois caminhos a seguir: o da crítica e o da amizade. Não preciso dizer que só o da amizade não te fará voltar-se novamente pra si. Então, optando por ele, preste atenção nas necessidades dos outros, nas suas "verdades" e anseios...E estenda a mão na direção do sonho alheio, fazendo o possível para ajudar...
Ao ouvir o outro, abra mão de suas verdades mais latentes, para que outras verdades possam acontecer em você. Isso servirá, não só para fortalecer as suas verdades mais verdadeiras, que serão contrapostas e, assim, terão que se desenferrujar para se reafirmarem, como também será uma forma de você rever alguns conceitos que estavam perdidos nas paredes empoeiradas de seu coração...
Olhar e escutar os outros servirá muito para exercitar o esquecimento de si...
E você verá que não é tão difícil quanto parece no início... É que nem malhar... Logo você acostuma e não consegue mais viver sem esta prática...
Ao esquecer de si você lembrará dos outros. Pessoas que já não estão aqui, pessoas que estão longe, pessoas que estão perto e parecem a quilometros de distancia, pessoas que voce já foi, mais calmas, pacientes, ou afoitas e imprudentes...
E lembrando delas, voce esquecerá de si...
Tente.. Não custa tanto assim...
Posso apostar que agindo assim, em 2009, voce terá um natal muito mais feliz...

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Natal é isso...


Natal é Cristo.
Nascendo, renascendo, chegando, chorando, novamente, gente, pequeno, no feno, entre animais, trazendo paz...
Ao olhar um presépio, mil pensamentos passam por minha cabeça...
Como uma criança como aquela pode sustentar a esperança e a renovação do mundo até hoje?
Num tempo sem mídia, o menininho de Belém dividiu a história dos homens todos...
De um estábulo, entre os presentes dos reis e as presenças dos pastores, nasce Deus feito gente, horizontalizando a fé, verticalizando a verdade...Nascia a cruz, numa noite de luz....
Um sinal, uma estrela, quantos sinais depois? Quantos milagres...
Nascendo e morrendo entre animais, Cristo nos mostra que não foi pra isso que fomos feitos, que fomos criados...
Não somos bestas, embora continuemos a agir como tal...
Como principais testemunhas do seu nascimento um José carpinteiro e uma Maria, sua mãe. Como principais testemunhas da sua morte, a mesma Maria, sua mãe, um João pescador e outra Maria, a pecadora...
E Jesus nos mostra que sua mensagem é para poucos...
Saudado como rei no princípio e execrado como rei no fim, Jesus nos mostra que ser humano foi sua grande missão, ser gente, com dignidade e beleza, vale bem mais que realeza....
Simplesmente, Ele chegou, mudou a história, viveu o amor, plantou a paz, regou o bem e ficou...
Transformando o coração de quem crê em manjedoura, o menino de Belém, homem de Jerusalém, continua vivo, entre nós, enquanto dois ou mais de reunirem em seu nome...
A despeito de tanta hipocrisia e incoerência, falta de honestidade e transparência, sua igreja segue, com a força de seus leigos, contemplando seus sinais...
E entre animais humanos, bestiais insanos, de calça, saia, colarinho e batina, sua luz continua forte, vencendo dor, vencendo morte, vencendo o mal que existe em nós todos enos renovando a cada Noite de Natal!!!

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Arte que pensa...

Amigos do CPQ, descobri um artista, no momento em grande visibilidade em Nova Yorque, que faz uma arte na medida para Catolicos que Pensam.
Seu nome é Stephan Doitschinoff, nascido numa família tradicionalista evangélica, onde seu irmão é pastor.
Ele fez um belo trabalho nas paredes das casas em Lençóis, na Chapa Diamantina, inclusive lhes presenteando com uma belíssima capela (veja nas fotos abaixo) e é também foco central de um documentário chamado "Temporal".

Atenção aos detalhes nas pinturas, nas mensagens deixadas e nas críticas a postura da Igreja além das denominações. Segundo o próprio artista, onde se "lê" Igreja, pode-se tb ler Governo e outras instituições dignas das mesmas críticas.

Mais detalhes em:
- Link da Exposição na Galedria Livine - Mew York
- Site próprio
- Sobre a Exposição e o Artísta

Abaixo, algumas amostras da sua exposição, Calma (da contração em latin de con alma c´alma, ao seja, com alma).













segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Ai meu Deus!!!!!!


Dancem e vão pro inferno, infiéis!!!!!!!
Mas percebam que no fim, a baixo da foto, ele não deixa de pedir dinheiro... e isso não o levará para o inferno, com certeza! Aehuaeuaeuaheuae

sábado, 6 de dezembro de 2008

Notícias do mundo


http://noticias.uol.com.br/ultnot/afp/2008/12/06/ult34u215148.jhtm


Associações de homossexuais italianos se manifestam contra o Vaticano

Na Cidade do Vaticano

Entre 200 e 300 pessoas se manifestaram neste sábado na praça de São Pedro de Roma para protestar contra a decisão do Vaticano de não apoiar na ONU a proposta da França em favor da descriminalização universal da homossexualidade.

Alguns manifestantes carregavam uma vela e outros colocaram uma corda no pescoço com o nó de forca para simbolizar a posição da Santa Sé.

Os militantes se concentraram na praça romana a pedido das associações italianas de defesa das comunidades homossexuais, como a Arcigay, Arcilesbica e Rosa Arcobaleno.

Os manifestantes criticam "a má opção que o Vaticano como Estado toma ao continuar considerando a homossexualidade um delito", assinalou Aurelio Mancuso, presidente da Arcigay, recordando que a condição é ainda castigada com a pena de morte em nove países.

O Vaticano - que milita permanentemente contra a pena de morte - se nega a apoiar a proposta francesa porque considera um ponto que pode ser favorável para os partidários das uniões matrimoniais homossexuais.

O projeto francês de "Declaração sobre a Orientação Sexual e a Identidade de Gênero" anunciado em maio pela secretaria de Direitos Humanos é apadrinhado pela ONU e por vários países como Brasil, Argentina, Holanda, Japão, Noruega, Croácia, Ucrânia, Nova Zelândia e Gabão.

domingo, 9 de novembro de 2008

E Jesus se enfureceu...


"Marcos 11:15 E foram para Jerusalém. Entrando Ele no templo, passou a expulsar os que ali vendiam e compravam; derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas.
Marcos 11:16 Não permitia que alguém conduzisse qualquer utensílio pelo templo;
Marcos 11:17 também os ensinava e dizia: Não está escrito: A minha casa será chamada casa de oração para todas as nações? Vós, porém, a tendes transformado em covil de salteadores."

Em uma das maiores manifestações da sua humanidade, Jesus, o pacífico cordeiro de Deus, "consumido pelo zelo com a Casa de seu Pai", explode num acesso de fúria diante do inaceitável:
a casa do bem transformada em morada do mal!

Muita gente acha difícil enxergar a cena de Jesus, irado, chicoteando pessoas, dando pontapés em mesas, soltando animais, gritando, pocesso, como um louco, dentro de uma "igreja"...

Muita gente acha esse evangelho incompreensível.

Eu me pergunto que ser humano não reagiria ao ver o nome ou a casa de seu pai violentados por tudo aquilo que fosse contrário ao que ele sempre ensinou?
Eu me pergunto que fé é essa que professa que somos imagens e semelhança de Deus, mas não reconhece em nós mesmos e, por conseguinte, nele também, sentimentos humanos como a ira. A ira de Deus, tão presente em diversas passagens da Bíblia...

Jesus sabia que aquela atitude iria precipitar sua condenação, pois atingia em cheio os interesses financeiros das famílias de Anás e Caifás, sumos sacerdotes de sua época. Era elas que exploravam o comércio no templo. Naquela Páscoa, Jesus deve ter dado um enorme prejuízo a seus algozes. Eles podiam tolerar tudo, mas aquilo ja era demais...

E hoje, quem são os vendilhões do templo? Quem são os que fazem da casa de Deus um covil de ladrões?

A resposta é simples e bastante dura: todos os que misturam fé e lucro pessoal ! Todos! Sacerdotes e leigos. Todos!

O que começa com uma bem intencionada ação para obter recursos para esta ou aquela obra necessária pode se transformar num grande negócio. Em um negócio que se torna, de repente, mais importante dentro de uma comunidade do que o próprio exercício da fé cristã. Basta, para isso, um sacerdote mal intencionado, que conduza ovelhas irracionais para este caminho...Estas ovelhas que ao invés de "béeeeeeeeeeee", o seguem berrando sempre "amémmmmmm", vão sendo envolvidas e também acabam por envolvê-lo e a prática da fé cristã se transforma num grande negócio, sempre para poucos... Espiritualidade, zero! Pratica da caridade, zero! Conteúdo, zero! E os eventos se multiplicam, as obras se somam, as interferências para a captação de dinheiro se avolumam. Viúvas são exploradas, inocentemente...E a casa de Deus continua sendo transformada em um covil de ladrões.

E os que têm a coragem de levantar a voz e questionar este tipo de realidade são alijados dela, como aqueles que querem a desunião, como radicais, como loucos...
Que grande conforto devem sentir interiormente por "serem perseguidos por causa da justiça"
Como devem se sentir bem aventurados "cada vez que os injuriam e os perseguem por causa do nome" daquele que foi o primeiro a dar o exemplo pelo que deveríamos lutar...

E Jesus se enfureceu....E hoje? Como está o Jesus dentro do seu templo? Feliz ou triste ao ver no que se transformou a igreja que Ele fundou? Fica esta incômoda pergunta para sua meditação...
E uma sugestão...Deixa Ele expulsar de dentro de você os vendilhões que impedem que pelo menos a sua casa se transforme numa casa de orações para todos com os quais você se encontrar!

Amém e muita paz, sempre!

sábado, 1 de novembro de 2008

Essa cara é um bostético...

... do contra (idioticamente, aliás), sem motivo, apenas para se sentir especial.
Mas, tenho que ler com cuidado esse artigo que encontrei assidentalmente (será?) e refletir, pensando que mesmo estando errado, ele tem razão! (o_O)
Ps.: Obviamente, apoio o robô quanto a idéia de fazer um documentário! pode deixar que eu filmo! Hauuhaeueu.

Coluna de Diogo Mainardi sobre a posse do Papa Bento XVI

Diogo Mainardi - Revista Veja - Edição 1902 - 27 de abril de 2005

A revolução geriátrica


"A fé verdadeira, segundo Joseph Ratzinger, exige maturidade. É para adultos. É para gente grande. Não para a rapaziada, que sofre de 'fraqueza mental'"

O melhor de todos foi eleito – Joseph Ratzinger. Sua maior qualidade é o profundo menosprezo que ele tem pelos jovens. Um bom exemplo do menosprezo ratzingeriano foi dado na homilia que antecedeu a eleição papal, na última terça-feira, quando ele ridicularizou a ala reformista da Igreja Católica comparando-a a um menor de idade. A fé verdadeira, segundo Ratzinger, exige maturidade. É para adultos. É para gente grande. Não para a rapaziada, que sofre de "fraqueza mental", sendo permanentemente "jogada pelas ondas e atirada de um lado para o outro por qualquer vento de doutrina".

Ratzinger tem razão. A grande ameaça à civilização ocidental é a infantilização da sociedade moderna. Na homilia da última terça-feira, ele afirmou que a Igreja Católica pode oferecer uma única resposta contra a barbárie infantilizadora: o fundamentalismo religioso. O papado de Ratzinger não tentará estabelecer um diálogo com a modernidade. Não aceitará o debate sobre o divórcio, a contracepção, o aborto, a eutanásia. Não mudará os dogmas da Igreja para adaptá-la à realidade dos dias de hoje. Pelo contrário. Ratzinger defende a atemporalidade da fé. Leonardo Boff declarou que, a partir de agora, "a Igreja terá mais dificuldade para ser reconhecida, especialmente pelos jovens". É verdade. A questão é que Ratzinger está se lixando para o reconhecimento dos jovens. Aliás, está se lixando também para o reconhecimento de Leonardo Boff. Ratzinger prefere assistir ao esvaziamento da Igreja a ceder ao catolicismo auto-indulgente praticado por aí. Sua mensagem é clara, e pode ser facilmente compreendida por qualquer menor de idade imbecilizado: o papa não irá correr atrás dos fiéis. Os fiéis é que deverão correr atrás dele, se não quiserem arder no fogo do inferno.

O menosprezo de Ratzinger pelos jovens é antigo. Seus biógrafos atestam que, no Concílio Vaticano II, ele era considerado um teólogo reformista, mas mudou de idéia depois de testemunhar o vandalismo dos estudantes em 1968. Duas décadas mais tarde, ele promoveu uma célebre cruzada contra a música "rock", por seu poder de "abater as barreiras da personalidade, e livrar o homem do peso da consciência". Nesse aspecto, Ratzinger é o exato oposto de João Paulo II. Para atrair os jovens, João Paulo II se cercou de estrelas da música popular e transformou as missas campais em grandes espetáculos profanos. Ratzinger não fará nada disso. Para ele, "a liturgia não é um espetáculo, não vive de surpresas simpáticas, cativantes, e sim de repetições solenes". Numa sociedade cuja maior preocupação é entreter e seduzir os jovens, Ratzinger tem a ousadia de lhes oferecer apenas seu menosprezo e seu sentimento de superioridade. A meninada é conformista, acomodada, titubeante. A revolução geriátrica de Ratzinger pretende enfrentá-la com o rigor intelectual, a insubmissão e o absolutismo.

Dá até uma certa pena de não ser católico.

questionamentos

-- Enumerando questionamentos relevantes:

1- Qual a realidade do alcance dos métodos de evangelização, discurso, empatia e até mesmo do alcance do próprio rito, da igreja na modernidade?
2- De que modo o rito é efetivo na espiritualização?
3- Praticantes por quê?
4- Não praticantes por quê?
5- Na igreja católica ha espaço para todos? Existe respeito pelo diferente?
6- A quem interessa o tradicionalismo?
7- Mudar é preciso ou mudar é danoso?
8- A igreja se fiscaliza, tanto por leigos como laicos, na manutenção da mensagem de Cristo?
9- O que é mais importante para a difusão da palavra: o modo ou o conteúdo?
10- Pregamos em grego para os índios?

e por fim,
11- Quem é pior: o santo egoísta ou o diabo altruísta?


-- Sugestão:

Irmão e companheiros de Católicos que Pensam, gostaria de sugerir a redação, produção e execução (com posterior veiculação) de um documentário entitulado: Católicos que Pensam - "subtítulo a decidir", sobre esses e outros questionamentos do Catolicísmo na realidade, utilizando os nossos múltiplos focos desenvolvidos nesse blog.

Aguardando opiniões.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

A César o que é de César....



Em tempos de crise, é sempre interessante voltar à Bíblia e buscar inspiração sobre as coisas inerentes ao dinheiro. A reflexão que proponho hoje é sobre a célebre frase de Jesus: "Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus".

Históricamente, por tudo que se conhece da personalidade do homem Jesus de Nazaré, é bem fácil de entender o que Ele quis dizer com a frase acima. Inteligente, preparado, sensível e humano como é, Jesus se contrapôs à provocação e à armadilha daqueles que queriam vê-lo "inimigo" do imperador romano, com uma colocação repleta de significado e, ao mesmo tempo, definitiva em relação ao dinheiro: dêm ao mundo o que o mundo vos exige, mas dêm a Deus também o que Ele vos pede" E, assim, separa bem o que é do mundo e o que é de Deus. Mais tarde, ao ser questionado por Pilatos se era, de fato, Rei, ele confirma: "meu reino não é deste mundo"...
Mas César era deste mundo. Roma era deste mundo. César era a personificação do poder romano. Do poder político. Do poder da força. Do poder do homem sobre o homem.
Jesus, ao contrário, veio pregar a igualdade, a irmandade, o amor entre as pessoas.
Não à toa que AMOR e ROMA são palíndromos, ou seja, palavras escritas de forma invertida.
Neste contexto, os valores pregados por Cristo são inversos aos pregados pelo "mundo romano", da mesma forma que são inversos aos valores pregados pelo mundo contemporâneo.
Num contexto mais teológico, não faltarão aqueles que usarão esta frase de Cristo para defender o dízimo, embora me pareça claro que um assunto não tenha nada com o outro. É apenas conveniente fazer esta correlação, para atribuir a Jesus a defesa deste "imposto sagrado de retribuição por tudo o que recebemos".
Vejo de outra maneira. Acredito mesmo que Jesus quis separar as coisas mesmo, mostrando para as pessoas que é possível estar dentro da lei de uma época, sem ferir a lei do Pai. Trocando em múdos: não basta ser apenas bom; não basta apenas ser honesto. É preciso ser justo e coerente, bom e legal, honesto e caridoso, ético e verdadeiro. Este é o apelo. E ser tudo isso, em nenhuma hipótese, significa servir a dois senhores, caminhar em cima do muro, ser morno. Não, definitivamente não!!!!!
Dêm a César o que é de César: paguem seus impostos, estejam dentro da lei. Mas dêm a Deus o que é de Deus: não se vendam aos valores do mundo.
Em tempos de crise, é sempre bom voltar à Bíblia. Esta crise intensa que se abate sobre o mundo, seja ela financeira, seja moral, seja institucional, seja humana, seja eclesiástica é apenas consequência da preocupação e da ocupação com os "cézares" contemporâneos. Em detrimento da preocupação e da ocupação com as coisas de Deus. Irônico é ver isto acontecendo dentro das igrejas, cada vez mais repletas de "cézares", cada vez mais longes dos valores cristãos...
Denários hoje são dólares, euros, ienes, mandarins, reais...
Roma é hoje Washington, Londres, Berlim, WallStreet, Paris, Pequim, Tokio, Brasília, o Vaticano. Formas diferentes de se escrever valores perecíveis: poder, dinheiro, corrupção, materialismo, ambição, incoerência, hipocrisia, vazio...
Deus permanece o mesmo, imutável e perene, eterno e infinito em seu valor mais absoluto: o AMOR. Da mesma forma, do mesmo jeito, com o mesmo olhar paterno estendido sobre a humanidade.
ROMA é império que passa. AMOR é imperativo que permaneça. Sempre!

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

"Quem constrói sobre o dinheiro... está construindo sobre a areia..."

Recentemente nosso atual Papa, Bento XVI, homem chamado Josef Ratzinger, falou sobre a crise mundial, ressaltando a importância de fundamentar a vida na Palavra de Deus, a qual coparou com a rocha.

No entanto, apesar de ser a mais pura verdade, vamos observar o modo como o nosso Papa anterior, João Paulo II, homem chamado Karol Woityla, lidou com o dinheiro da igreja. E aprender sobre o episódio chamado "Escândalo do Banco Ambrosiano".

--Matéria da Revista Isto É Dinheiro:
http://www.terra.com.br/istoedinheiro/especiais/papa/tesouros_vaticano.htm

O patrimônio da Cúria Romana é de US$ 820 milhões
Matéria de 4/05/2007 (última alteraçõa da página)
Por Fernanda Galvão

Parai de armazenar para vós tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem consomem, e onde os ladrões arrombam e furtam. Antes, armazenai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde ladrões nem arrombam nem furtam. Pois, onde estiver o teu tesouro, ali estará também o teu coração. (Livro de Mateus, capítulo 6, versículos de 19 a 21).
Galeria de arte Antes de sofrer com a precariedade de sua saúde, João Paulo II acordava às 5 da manhã para percorrer os corredores do Palácio Episcopal, repletos de telas de Botticelli e Bernini

Imagine esse texto bíblico reescrito nos dias de hoje. Ele deveria incluir, além das pragas, da ação do tempo e dos larápios, outros dois inimigos ferozes: a recessão econômica mundial e as perdas com variações do câmbio, problemas essencialmente terrenos. Eles contribuíram, de 2001 para cá, para solapar um dos grandes troféus dos 25 anos de João Paulo II: a saúde financeira do Vaticano. O legado econômico de Karol Wojtyla, depois de um quarto de século, é positivo. Durante oito anos, entre 1982 e 2000, o caixa da Cúria foi saneado. O papa polonês tinha algo em mente: só poderia percorrer o planeta, em sua campanha de evangelização, com as contas em ordem. Assim foi feito. Até 1993, o balanço financeiro da Igreja estava no vermelho havia 23 anos. João Paulo II arrumou a casa – uma casa cujo patrimônio, repleto de edifícios magníficos e mobiliário idem, é estimado em US$ 820 milhões. Esse valor não inclui as obras de arte.

Mas, cabe ressaltar, em tempos de globalização, o equilíbrio financeiro do Vaticano não escapou às oscilações do cenário econômico mundial. Em 2002, as finanças da Santa Sé foram abaladas pelo segundo ano consecutivo. O déficit foi de US$ 15,8 milhões, contra US$ 3,1 milhões negativos em 2001. O cardeal Sergio Sebastiani, secretário da Prefeitura para Assuntos Econômicos da Santa Sé, atribui o mau resultado à queda no mercado de ações. Nessa conta, pesaram ainda as flutuações do câmbio. Os resultados de 2002, os mais recentes com divulgação completa, foram os primeiros depois da conversão da lira para o euro, nova moeda oficial do Vaticano. Houve prejuízo nas receitas de mídia, que incluem a rádio, a TV, o jornal L’ Osservatore Romano e a editora. As perdas de US$ 1,93 milhão do setor, porém, são números melhores que os resultados de 2001, quando o saldo das atividades de mídia ficou negativo em US$ 25,2 milhões.

As doações, inteiramente direcionadas às despesas com atividades institucionais, tiveram um aumento de 2% nos últimos anos. Em 2002, o volume arrecadado foi de US$ 100 milhões. Especialistas nos tesouros do Vaticano têm uma explicação para o volume, considerado demasiadamente modesto: o escândalo dos padres americanos pedófilos, em 2000 e 2001. Explica-se: a Igreja dos Estados Unidos é, ao lado da Alemanha e da Itália, a principal doadora. A má postura dos prelados da terra de George W. Bush, investigados pelo Ministério Público, teria bloqueado o fluxo de dólares. A Prefeitura para Assuntos Econômicos, no entanto, negou a acusação e, em comunicado oficial, afirmou que a culpa seria dos crescentes gastos administrativos, que atingiram US$ 260 milhões em 2002. Segundo o cardeal Sebastiani, apesar das denúncias contra os padres que se aproveitaram de crianças, a ajuda americana ao Vaticano aumentou em 2002. Mas há, sim, um rombo atrelado aos pedófilos: o Vaticano, por respeito à legislação americana, teve que abrir mão de uma parte do dinheiro, transformada em indenização aos familiares dos menores violentados. Em 8 de agosto de 2003, a Arquidiocese de Boston, na qual 130 menores teriam sido molestados pelo sacerdote John Geoghan, de 66 anos, chegou a oferecer US$ 55 milhões às vítimas.
Acervo histórico: O ambiente da Santa Sé é aparentemente simples - mas guarda algumas preciosidades da história da civilização. Da sala de reuniões à biblioteca, passando pela capela particular do papa, esconde-se uma coleção de obras-primas.
Entre raridades dos séculos XV e XVI, João Paulo II escrevia as encíclicas e documentos que construíram a lenda de um dos grandes personagens do nosso tempo

Os resultados financeiros da Santa Sé, divulgados anualmente na internet, não levam em conta as transações do Instituto para Obras Religiosas (IOR), conhecido como Banco do Vaticano. Seus ativos somam mais de US$ 3,2 bilhões de investidores particulares. Trata-se da instituição que gere o cotidiano da Cúria (há dois caixas eletrônicos do IOR no interior da Santa Sé, com instruções em latim, além do italiano, inglês e francês), mas que também produziu uma das maiores confusões dos primeiros anos de João Paulo II. No final da década de 70, a Santa Sé desembolsou US$ 250 milhões a credores do Banco Ambrosiano, que foi a maior instituição financeira privada da Itália e tinha o Vaticano como um dos acionistas. O Ambrosiano foi à bancarrota depois do desaparecimento de US$ 1,3 bilhão. A Igreja se ofereceu para pagar os credores alegando “envolvimento moral” no caso.

Naquele tempo, o principal responsável pelo Banco do Vaticano era o arcebispo americano Paul Marcinkus, hoje vivendo no Arizona, em exílio forçado. Marcinkus fora segurança particular do papa Paulo VI. Ganhou o apelido de “Gorila” quando evitou que o pontífice fosse apunhalado por um artista boliviano nas Filipinas, em 1970. Chegou a governador da Cidade do Vaticano e, entre 1971 e 1989, esteve à frente do IOR. Acabou indiciado em 1982, quando Roberto Calvi, presidente do Banco Ambrosiano, foi assassinado. O executivo, conhecido como “Banqueiro de Deus”, foi jogado de uma ponte em Londres, com pedaços de tijolo nos bolsos. A máfia italiana foi acusada de mandar matar Calvi, envolvido num esquema de lavagem de dinheiro. Marcinkus não foi investigado, graças à imunidade religiosa.

O escândalo incomodou João Paulo II – e o levou a dar prioridade ao cofre do Vaticano. Escolhia cardeais especialistas em administração como quem elegia o CEO de uma multinacional. O mais celebrado deles é Edmund Szoka, de Detroit, nos EUA, empossado em 1990 como secretário da Prefeitura para Assuntos Econômicos. Foi Szoka quem cortou despesas e incentivou o aumento das contribuições de outros países. Ele instituiu também a publicação anual de balanços financeiros auditados e exortou bispos de todo o mundo a fazer o mesmo. Agora, todo pároco responsável pela gestão de recursos tem noções de contabilidade. “Hoje, a Santa Sé é mais transparente do que muitas grandes corporações”, diz Szoka. A administração de cada paróquia é independente e o Vaticano não dá assistência àquelas que estão em dificuldades financeiras. No caso das paróquias americanas que terão de indenizar vítimas de abusos sexuais, a orientação é para que o dinheiro seja obtido por meio de empréstimos, sem juros, junto a outras dioceses.
Rombo financeiro: O escândalo do Banco Ambrosiano, no final da década de 70, levou o papa a restaurar as finanças da Cúria. Em homilias (acima) ele costumava condenar os males do "capitalismo selvagem"

A Prefeitura para Assuntos Econômicos também administra as finanças da Cidade do Vaticano, o menor Estado soberano do mundo, em Roma. Ali funciona o comércio de produtos como roupas, artigos de perfumaria e farmácia e aparelhos eletrônicos, vendidos a preços mais baixos devido à isenção local de impostos. Na cidade funcionam ainda duas agências bancárias e um posto de gasolina. Além disso, existe um pequeno parque industrial voltado à produção de mosaicos e uniformes. A cidade, que registrou receitas de US$ 209,6 milhões em 2002, é sustentada pela venda de selos e publicações e pelo dinheiro arrecadado com as entradas para museus. O patrimônio artístico, de valor incalculável, exibe construções como a Basílica de São Pedro e a Capela Sistina de Michelangelo, uma das obra primas da humanidade, repleta de telas de gênios como Botticelli e Bernini. A sede da Igreja abriga também uma valiosa e extensa biblioteca, com coleções de grande relevância histórica, científica e cultural. Foi o cenário perfeito para um papa, João Paulo II, que ensinou aos fiéis uma lição: zelar pelo dinheiro, e movimentá-lo a juros, não é pecado.

--Mais sobre o Banco Ambrosiano:
Inglês - http://en.wikipedia.org/wiki/Banco_Ambrosiano
Portugês: http://pt.wikipedia.org/wiki/Banco_Ambrosiano

Nem tudo é o que parece?

--Matéria da revista Der Spiegel, extraída do site do Uol Notícias:
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/derspiegel/2008/10/13/ult2682u966.jhtm

13/10/2008
Controvérsia sobre Pio 12 se intensifica
Santidade para o papa do Holocausto?


O papa Bento 16 alimentou na quinta-feira passada as especulações sobre a possível beatificação do papa Pio 12, criticado com freqüência por não ter feito o suficiente para combater o Holocausto. O Vaticano tem trabalhado duro para melhorar a imagem popular de Pio.

Normalmente, o processo de beatificação é um negócio a portas fechadas, que acontece dentro do Vaticano, bem longe do olhar do público. Mas não dessa vez. Há meses a Igreja Católica está enviando sinais de que beatificação do papa Pio 12, que comandou a Igreja Católica durante a 2ª Guerra Mundial, pode ser iminente. Alguns historiadores e líderes judeus, entretanto, protestaram contra a atitude, argumentando que Pio 12 fez menos do que deveria para salvar os judeus do Holocausto.

O papa Bento 16 lançou na terça-feira uma saraivada de argumentos em defesa de Pio 12. Falando durante uma missa na Basílica de São Pedro em comemoração ao 50º aniversário da morte de Pio, Bento disse que o pontífice, que se tornou papa em 1939 logo antes do irromper da guerra, "trabalhou em silêncio e em segredo" durante o conflito "para evitar o pior e salvar o maior número possível de judeus."

Bento lembrou ao público que a ministro israelense de relações exteriores Golda Meir homenageou Pio quando ele morreu em 9 de outubro de 1958. Bento 16 também enfatizou uma mensagem de Natal de Pio para o rádio em dezembro de 1942, na qual ele falou sobre as "centenas de milhares de pessoas que, sem terem cometido nenhum erro, apenas por razões de nacionalidade ou raízes étnicas, foram destinadas à morte ou à lenta deterioração."

O processo de beatificação, a etapa formal final antes de declarar a santidade, "pode acontecer com alegria", disse Bento 16 na quinta-feira.

Entretanto, nem todo mundo é tão otimista quanto à perspectiva de santificação de Pio 12. O rabino chefe da cidade de Haifa (em Israel), She'ar Yashuv Cohen, que na segunda-feira se tornou o primeiro judeu a falar diante do concílio de bispos do Vaticano, disse que muitos judeus estavam descontentes em relação a Pio.

"Sentimos que o finado papa deveria ter se posicionado mais fortemente do que fez", disse numa entrevista coletiva antes de falar ao concílio. "Ele pode ter ajudado muitas vítimas e refugiados em segredo, mas a questão é: ele poderia ter erguido sua voz? E isso teria ajudado ou não? Nós, como vítimas, sentimos que (a resposta é) sim."

Outros não foram tão diplomáticos. Num livro de 1999 chamado "Hitler's Pope" ["O Papa de Hitler"], o escritor britânico John Cornwell documentou o papel de Pio antes de se tornar papa, na negociação do "Reichskonkordat", tratado assinado entre a Alemanha Nazista e a Igreja Católica em 1933. Muitos historiadores argumentaram que esse acordo fornecia ao regime nazista um grau substancial de legitimidade internacional.

Mas a afirmação de Cornwell de que o papa Pio 12 falhou em tomar uma ação séria para salvar os judeus tem sido confrontada e o próprio autor se retratou de algumas de suas alegações mais controversas em relação à suposta aquiescência de Pio.

Mesmo assim, muitos judeus ainda são críticos em relação ao papel que Pio desempenhou. Sua foto no museu do Holocausto Yad Vashem inclui uma descrição bastante dura.

"Mesmo quando notícias do assassinato de judeus chegaram ao Vaticano, o papa não protestou nem verbalmente nem escrevendo", diz a legenda.
"Em dezembro de 1942, ele se absteve de assinar a declaração aliada condenando o extermínio de judeus. Quando os judeus foram deportados de Roma para Auschwitz, o papa não interveio."

A veracidade da legenda da foto foi questionada pelo Vaticano e o museu disse que estaria aberto a realizar uma nova pesquisa sobre o assunto. Os defensores de Pio argumentam que o papa da época da guerra trabalhou duro nos bastidores para proteger os judeus dos campos de concentração nazistas.

O jornal do Vaticano, L'Osservatore Romano, publicou na terça-feira um artigo de página inteira elogiando os esforços de Pio durante a 2ª Guerra Mundial. O jornal também incluía um texto escrito pelo secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Tarcisio Bertone. "Se ele tivesse feito uma intervenção pública, teria colocado em perigo a vida de milhares de judeus, que, sob suas ordens, foram escondidos em 155 conventos e monastérios apenas em Roma", escreveu Bertone.

O padre jesuíta Peter Gumpel, que, como investigador-chefe do Vaticano, passou anos pesquisando sobre o papa para avaliar sua candidatura à santidade, deu sua bênção para a beatificação. Em entrevista ao jornal Süddeutsche Zeitung na terça-feira, Gumpel disse que leu tudo o que conseguiu encontrar, e teve acesso a arquivos do Vaticano que ainda não foram colocados à disposição do público.

"Se eu tivesse encontrado algo incriminador nos arquivos, eu nunca teria assinado", disse Gumpel ao Süddeutsche. "Afinal, eu tenho muita responsabilidade como o juiz de investigação."

O caminho para a beatificação do papa Pio 12, que começou em 1967, nem sempre foi direto e sofreu repetidos atrasos. Com o processo de beatificação aparentemente em marcha, alguns argumentam que este é o momento para a Igreja Católica abrir seus arquivos para que os historiadores independentes possam olhá-los.

"Eu gostaria que eles gastassem uma grande porcentagem de seu tempo e esforços para abrir os arquivos, e menos tempo selecionando o que apresentam", disse Abraham Foxman da Liga Anti-Difamação (ADL) recentemente ao jornal National Catholic Reporter. Foxman e a ADL se opõem consistentemente à beatificação de Pio. "Eles estão protestando demais. Estamos dispostos a suspender o nosso julgamento e o Vaticano deveria suspender o seu (próprio) até que os acadêmicos pudessem examinar abertamente o material e ver o que existe lá."

Tradução: Eloise De Vylder
Visite o site do Der Spiegel

sábado, 4 de outubro de 2008

Da série: assim caminha a humanidade.

A sua ressureição por módicos 100 Baks (aprox. R$6,00)



sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Sinais úteis de presenças incómodas

-- Nova matéria relevante encontrada:
http://www.agencia.ecclesia.pt/pub/47/noticia.asp?jornalid=47¬iciaid=64686

.
Gosto de ler entrevistas. A entrevista é hoje uma modalidade frequente de comunicação, onde a pessoa se mostra a si mesma, ao seu mundo interior e às suas vivências. Aí se vê a riqueza de muitas vidas e, também, o vazio e o sem-sentido de tantas outras.
Por vezes, o entrevistador indaga sobre a adesão religiosa do entrevistado. Não deixa de ter interesse poder ver como muitos falam de si na relação com o mundo do religioso. Outros não precisam que se lhes pergunte. Faz parte das suas vivências e preocupações, mesmo que a sua posição, perante Deus e a Igreja, não seja de adesão total ou de prática regular.
Li a entrevista de Fernando Nobre a Noticias Magazine de 21 de Setembro. O fundador e presidente da AMI é um homem fascinante pela sua generosidade e entrega, com o ideal evangélico de “fazer o bem sem olhar a quem”, expondo-se a perigos constantes e animando missões de ajuda médica e de promoção humana nos países mais pobres do mundo e no meio das mais perigosas e exterminadoras situações de guerra. Quando há anos estive na televisão, em directo, com Fernando Nobre, a convite do jornalista José Manuel Barata Feio, admirei a sua serenidade, cultura e capacidade de reflexão, em relação a problemas difíceis e melindrosos, era o caso que ali nos reunia, que não se apreciam com demagogias, nem com opiniões superficiais.
Fernando Nobre, que preside a uma associação não confessional, laica como ele próprio diz na entrevista, fala do seu “respeito pelos missionários, seja de que tendência forem” Vai-os conhecendo por esse mundo fora, a viver e a lutar, nas situações mais difíceis e penosas, como “pessoas com imensa fé que conseguem fazer um trabalho extraordinário em prol dos outros”. E conta, mais adiante, que ao dirigir-se para uma missão muito difícil de ajuda às vitimas do tsunami, no Sri Lanka, esperava-o, no aeroporto, um padre que ele não conhecia, nem por ele era conhecido. Ostentava um cartaz com o seu nome e disse-lhe que soubera da sua vinda, por um relatório da Comissão dos Direitos Humanos na Ásia e que chegaria naquele mesmo avião. Foi graças a este padre que, como ele, vivia a urgência do amor e da solidariedade, que se pôde montar, de imediato, em rede de colaboração, a missão urgente de ajuda a um povo destruído.
Impressionam-me, pelos preconceitos e pelas omissões e entraves que provocam, as atitudes de gente, dita evoluída e preocupada com os outros, que fala da Igreja e do fenómeno religioso, com desdém e arrogância. Atitudes ao arrepio da realidade e da verdade objectiva, que nada constroem e muito destroem. Pessoas livres e comprometidas, sabem distinguir, colaborar e aceitar colaboração. A Igreja e os cristãos coerentes são incómodos, mas estão sempre presentes onde faz falta, mormente ante a dor e a miséria de tanta gente. É o seu dever. Também ele precisa de apoio.

Opinião | D. António Marcelino| 02/10/2008 | 17:03 | 2840 Caracteres
Copyright© Agência Ecclesia

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Ação e reflexão




Acabei de vir de um encontro de jovens que aconteceu no último final de semana. Um encontro comum, como muitos outros, que tem defeitos e qualidades inerentes ao seu conteúdo. Coisas bonitas são ditas, uns são tocados, outros nem tanto, mas, afinal, o que é mais importante num encontro de jovens?

Ouvir belas palavras, ser tocado por algumas delas. Falar e ser ouvido. Palavras são coisas poderosas, que agem de maneira sorrateira nas nossas almas. As vezes ficam dias, semanas ou meses até que façam sentido. O importante mesmo é usá-las. Deixá-las agir.

Conhecer pessoas iguais a você, ou completamente diferentes, e perceber que são, na verdade, apenas pessoas. Únicas, indivisíveis e dividias. Que sabem e que não sabem quem são, como todo mundo aliás! E levar isso para o seu cotidiano, lembrando que gente é apenas gente e erra como gente.

Pensar, pensar muito. Certamente um momento a parte para refletir sobre você, sua vida, a vida dos outros, os porquês existenteciais também conhecidos como: e agora? Perceber que na vida não há um momento em que não ha crise. Perceber que vivemos em crise simplesmente por que vivemos. Viver é estar em crise.

Mas, antes de mais nada, de longe o maior benefício de um encontro de jovens é o resultado do testemunho da superação. É ver uma multidão de gente lutando pra mover um grão de areia, que talvez, numa reação em cadeia, vai derrubar uma montanha um século depois, mas agora é só um grão de areia. O maior testemunho é a ação, independente de gratificações, de metas, de cumprir objetivos traçados e preestabelecidos.

O importante é perceber que a vitória não é nossa, assim como não é nossa a meta, nem o objetivo. Somos apenas os braços, os trabalhadores, as ferramentas. Cabe ao dono da história decidir o que fazer com o resultado. E ele sabe...

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Concedei-nos o convívio dos eleitos....


Caros Pensadores

Proponho uma série de reflexões sobre as respostas que semanalmente somos obrigados a repetir nas celebrações dominicais, especificamente durante as orações Eucarísticas.
Inicio com este primor: Concedei-nos o convívio dos eleitos.
Sempre considerei esta frase um atentado á inteligência Cristã.
Se Deus nos deu o livre arbítrio, como Ele poderá nos conceder qualquer coisa, se não formos dignos dela. Teremos ou não nossa recompensa, seremos ou não chamados para o "convívio dos eleitos", se tivermos merecimento para tal. Então, porque aborrecer a Deus com este tipo de pedido?
E quem seriam os eleitos?
Por acaso, a despeito de toda mensagem de igualdade e liberdade de Deus, através de Cristo, Ele tem aqueles que elege como melhores? Ou são estas pessoas que se elegem por mérito próprio? E, se assim o é, o que nós, pecadores, pobres mortais estaríamos fazendo no meio delas?
Não seria mais humilde, verdadeiro e produtivo orar a Deus pedindo que Ele nos concedesse o dom de viver de forma digna, coerente e simples?
Não seria mais Cristão, orar para estar entre os últimos e, não, entre os eleitos?
Fica a pergunta no ar...

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Traduções


Ando escutando muito a história de falar em línguas.
Não sei se é moda ou se é fantasia. Na verdade, para mim, trata-se de apenas mais uma mania, a meu ver nada carismática, que este povo cheio de carismas insiste em tentar nos impingir.
Jesus falou tão claramente, tão abertamente e, mesmo assim, até hoje, pouquíssimos são os que entendem realmente a sua mensagem. Então, pra que complicar? Como imaginar que o Espírito Santo, deixado para nos ajudar, queira nos falar em líbguas estranhas, como se isso fosse uma sublime manifestação de poder e glória...
Vamos pensar...
Pelo amor de Deus, vamos racionalizar...
Desde o antigo testamento, Deus Pai se mostra direto em suas mensagens. Basta reler passagens como a do Gênesis, com Adão e Eva (regras simples, claras), a do Sacrifício de Issac (ordem direta, extrema), a dos Dez Mandamentos (bastante resumidos, sintetizados), a de Lot em Sodoma e Gomorra(mesmo através de mensageiros(anjos) nada de nebuloso, tudo direto), entre outras.
Depois vem Jesus e, além de ser claro, fosse em seus sermões, fosse em suas parábolas, fosse em suas comparações, fosse em suas respostas, ainda faz questão de dar o exemplo, de viver o que pregava. E foi além, previu fatos que aconteceriam. Mais claro que isso?
Por que então o Espírito Santo, terceira pessoa da trindade divina, ao invés de acender os corações com a palavra viva, a mensagem autêntica, a linguagem direta, preferiria agir através das pessoas utilizando de línguas que poucos entendem?
Porque necessitar de traduções? Penso que chega até a ser uma ofensa à inteligência divina...
Línguas...
Prefiro crer nas línguas de fogo, que acenderam os corações e as mentes dos discípulos e os encheram de coragem para lutar, pregar e viver por aquilo em que acreditavam. De forma simples, humilde, mas firme, verdadeira. Não era eles que falavam em outras línguas, mas as pessoas que entendiam em suas línguas o que eles falavam...
Pra que inverter as coisas? Por que tornar a mensagem intraduzível?
Os irmãos carismáticos que me perdoem...
Mas não dá pra entender!

domingo, 31 de agosto de 2008

Aprentendo com os erros de todos

Matéria do jornal El País.
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/elpais/2008/08/30/ult581u2766.jhtm

30/08/2008
Entre o mercado e o púlpito: igrejas evangélicas crescem em território católico

Centenas de igrejas evangélicas desembarcam na Espanha com os imigrantes. A porcentagem de protestantes na América Latina já alcança 20% da população. Algumas organizações fazem negócios às custas da fé.


María Antonia Sánchez-Vallejo
Em Madri

Na América Latina se rompeu o monopólio da fé. O pluralismo e a concorrência dominam o cenário religioso; o proselitismo assume as leis do mercado - e as técnicas de comunicação multimídia - e parte de uma paróquia tradicional ou nominalmente católica passa para as igrejas evangélicas. Falar em transferência maciça não é exagerado: calcula-se que entre 10% e 20% da população sul-americana sejam protestantes, de 20% a 30% na América Central e mais de 31% na Guatemala. Exemplos do fenômeno do fundamentalismo cristão, as novas igrejas latinas arrastam massas populares e começam a exportar pastores. Também para a Espanha: os imigrantes reproduzem suas comunidades religiosas ou as criam novamente, o que os ajuda a salvar-se do isolamento da imigração. Surgem "como cogumelos" - nas palavras de um pastor protestante - igrejas livres, autônomas, informais, o que também representa um risco de penetração de seitas ou grupos de filiação duvidosa.

O Vaticano considera uma "sangria que não pode ser parada" a deserção dos católicos - no caso de que o fossem anteriormente - para as fileiras protestantes e a atribui a um "proselitismo agressivo" - os termos entre aspas são declarações do papa Bento 16 -, mas os evangélicos aproveitam a distância secular, na sua opinião, entre o clero e os fiéis católicos para ganhar terreno. São protagonistas desse fenômeno as igrejas pentecostais, que salientam a ação direta do Espírito Santo e seus dons - a cura, a profecia ou o dom das línguas -, o que na prática se substancia em cerimônias participativas, inclinadas ao êxtase coletivo. Pentecostais são os pregadores que, na América Latina e na Espanha, dominam as ondas ou as antenas de várias rádios e televisões locais. Pastoreiam comunidades formadas majoritariamente por fiéis de baixo nível social e, no caso dos imigrantes, de seres que regulam sua nova vida através da experiência religiosa. Mas por trás de algumas siglas ou nomes há interesses equívocos, quando não negócios - às vezes autênticas multinacionais - em nome da fé.

O que representa essa proliferação de novos movimentos religiosos na América Latina? E na Espanha, representa algum desafio? Há algum filtro, modos de garantir a idoneidade das novas igrejas? "Na Espanha há cerca de 2.600 igrejas evangélicas, e 2.100 estão registradas em nossa federação. O resto não se inscreve porque é muito recente, ou porque estão em processo de constituição ou porque não querem", afirma Mariano Blázquez, secretário-executivo da Federação de Entidades Religiosas Evangélicas da Espanha (Ferede), interlocutora diante do governo espanhol. À lista de igrejas oficiais somam-se centenas de igrejas espontâneas, às vezes efêmeras. "(No âmbito protestante) os grupos não precisam da aprovação de um bispo ou de uma hierarquia para funcionar. Qualquer um pode criar uma igreja, e essa é exatamente nossa grande fraqueza. Não podemos evitar excessos ao amparo da liberdade. O único que podemos fazer na Ferede é explicar qual é a realidade espanhola e acompanhá-los no processo de constituição. Os únicos limites são a legislação espanhola e o Evangelho", conclui Blázquez, que confirma um desembarque "difícil de controlar". Blázquez e os demais especialistas consultados franzem a testa quando se levanta o argumento das seitas. "Prefiro falar de atividades delituosas ou que possam afetar a personalidade. 'Seita' não tem uma conotação jurídica, mas por trás de algumas igrejas há atividades que podem ser perseguidas. É isso que é preciso denunciar, trate-se de uma igreja ou de um clube de futebol", afirma.

O representante da Ferede se refere concretamente à Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), também denominada Pare de Sofrer em muitos países latino-americanos e investigada no Brasil e na República Dominicana por fraude fiscal, malversação de fundos e suposta lavagem de dinheiro do narcotráfico, cujo exemplo El País pôs na mesa discutir o problema das seitas. A alusão não é gratuita. Com outro nome - Comunidade Cristã do Espírito Santo -, a IURD está inscrita desde 1993 no Registro de Entidades Religiosas do Ministério da Justiça da Espanha. Mas não está na Ferede, embora Blázquez lembre que não é obrigatório.

A que se deve a rejeição de seus pares? "Ao mercantilismo, à perversão do Evangelho. Vendem a água do rio Jordão e cruzes bentas, tudo isso é alheio a nós. Mas foram eles que retiraram o pedido de registro. É claro que de nossa parte havia certa disposição a uma avaliação desfavorável, pois algumas de suas práticas são discordantes."

Por exemplo, o recurso à superfé, o evangelho da prosperidade, que se baseia em doações voluntárias como prova de fé. Por essa via a IURD arrecada bilhões de dólares por ano, segundo fontes fidedignas. Basta dar um clique na página da web da Comunidade Cristã do Espírito Santo para saltar para outra em que aparece um convite para realizar doações, seguida de um número de conta. Não se trata do dízimo - a contribuição de 10% do salário para a manutenção da igreja, uma forma de autofinanciamento nas igrejas protestantes. Vai muito além.

Mas a IURD, com a qual El País tentou entrar em contato sem resultado, não é a única "igreja" questionada. Também o são agrupamentos como Juventude Com Uma Missão (JCUM), a qual o Brasil acusa de manipular indígenas da Amazônia e que também está presente em uma dezena de cidades espanholas, assim como registrada na Ferede e na Justiça; o instituto Lingüístico de Verão, controversa associação americana de difusão da Bíblia arraigada em comunidades indígenas do Peru, México Colômbia ou Brasil, ou finalmente o grupo missionário americano Novas Tribos, que foi expulso da Venezuela em 2005 por ser, segundo Hugo Chávez, "agentes de penetração imperialista".

Exemplos como este último ano poderiam propiciar outra leitura: a perseguição por parte de regimes de esquerda ou populistas a organizações que disputam os favores das massas. Algo como um expurgo do populismo contra o povo.

Do povo procede a onda mais recente de fiéis e pastores que chega à Espanha. "Os recém-chegados têm um perfil discreto, vêm do Equador, de Honduras," explica Blázquez. "Nada a ver com a imigração maciça de profissionais de 15 anos atrás, coincidindo com a primeira crise grave da Argentina. Alguns já eram evangélicos, outros se converteram aqui", acrescenta o representante da Ferede.

Antonio González, doutor em filosofia e teologia, ex-colaborador do jesuíta Ignacio Ellacuría e bom conhecedor da realidade centro-americana - viveu sete anos na Guatemala e em El Salvador -, está de acordo: "Os pentecostais costumam ser de classe baixa ou mesmo de ambientes de extrema pobreza". O pentecostalismo se arraiga entre os mais desarraigados, embora também haja pentecostais de classe média e alta e inclusive políticos, como o direitista guatemalteco Efraín Ríos Montt.

"A proletarização nas grandes cidades provoca a necessidade de recriar uma nova identidade, e as igrejas evangélicas oferecem a oportunidade de forjar essa identidade alternativa", conclui. Para a maioria dos imigrantes, carentes de referências, o fato religioso é portanto uma tábua de salvação. "São muitos os latino-americanos que não eram protestantes antes de vir e que se tornam evangélicos precisamente na Espanha, pois é aqui que experimentam a proletarização e a anomia. Também não faltam crentes que, muito fervorosos em seus países de origem, na Espanha perdem seu fervor, talvez devido à prosperidade econômica ou pelo desejo de ser aceitos", continua González. "As igrejas evangélicas representam para muitos deles uma maneira de se integrar, mas também se corre o risco contrário, o da criação de igrejas étnicas, isoladas. Em nossa igreja, por exemplo, há oito latino-americanos", afirma Pedro Tarquis, porta-voz da Aliança Evangélica Espanhola. "Nosso maior seguro, o maior controle, é a convivência, e o ideal seria a interculturalidade, mesmo que sejam os filhos dos que chegam agora que realmente se integrarão.

"Há costumes diferentes, é verdade, mas pelo menos temos um idioma comum, coisa que não ocorre com os emigrantes da Europa do Leste ou da Ásia", acrescenta Tarquis, que vê nessa incorporação seiva nova para as igrejas: "Assim como a realidade católica nos EUA se sustenta pela presença de imigrantes latinos, aqui na Espanha poderia se afirmar o mesmo do movimento evangélico". Não há cifras do número de imigrantes latino-americanos na Espanha que professam a religião evangélica, e os do subcontinente são aproximados, como vimos. Mas ninguém duvida do potencial evangelizador da América Latina.

Pela primeira vez a América do Sul não é uma terra de missão, mas um viveiro de pastores e fiéis. "As igrejas evangélicas cresceram e seus líderes são autóctones, não é verdade que sejam produto da penetração americana, não mais. A região do mundo que tem mais missionários é a América Latina, e os manda inclusive para a América do Norte", explica Mariano Blázquez.

"Estima-se que há mais de 9 mil missionários latino-americanos, enviados e sustentados pela América Latina, trabalhando em culturas diferentes da sua. Cerca de 4 mil o fazem na Ásia, África e Europa do Leste", relata Samuel Escobar, de origem peruana, catedrático emérito de Missionologia no Seminário Teológico Batista da Pensilvânia (EUA). "A religiosidade evangélica latino-americana é um fenômeno crescente e vigoroso", acrescenta. "É difícil estimar com precisão quantos protestantes há no continente, mas, por exemplo, no Peru, segundo o censo de outubro de 2007, a população protestante maior de 12 anos duplicou desde 1993 e hoje chega a 12,5%. No Chile se aproximaria de 20%."

E como é a vivência religiosa dos evangélicos? Exatamente isso, uma experiência pessoal, comunitária, vital, que traspassa os limites do culto para se enraizar no emocional e no cotidiano. Basta dar uma volta pelos bairros populares das grandes cidades para constatar a mobilização: são muitas as convocações de rua, de folheto na mão, para cultos e reuniões "de fraternidade" que pescam, sobretudo no calado dos jovens. Também proliferam os cartazes pregados em portais, bocas de metrô ou faróis com apelações ao "chamado do Evangelho". Os convocantes podem se chamar, por exemplo, Livres x Cristo, nome que aparece em um folheto apanhado ao acaso em um bairro de Madri com alta porcentagem de imigração latina. "Renovação juvenil", anuncia o papel; "música com uma mensagem de mudanças para sua vida." Remetente: Compañerismo La Puerta. A entrada ao ato, com músicas e obras de teatro, é grátis.

"A atração das igrejas pentecostais é a de uma fé pessoal, compreensível, fortemente vivencial, diante da experiência mais anódina, autoritária, fria, que costumam ter muitos latino-americanos na Igreja Católica. Inclusive quando o sacerdote procede de meios muito populares sua formação o distancia de suas origens mais que os pastores pentecostais, que permanecem mais próximos de suas raízes. E normalmente a Igreja Católica, quando se interessa pelos pobres, não pode deixar de adotar uma atitude paternalista devido à forte diferença de classes que há entre seus líderes e seus fiéis", salienta Antonio González, conhecedor do contexto católico, tentando explicar as razões do sucesso do protestantismo na América Latina.

"Uma estudiosa pentecostal americana afirma que os latino-americanos quando se tornam pentecostais deixam de ser psicologicamente pobres, embora na verdade continuem sendo", conclui González, professor de teologia no Seminário Evangélico Unido de El Escorial (Madri) e responsável por estudos e publicações da Fundação Zubiri.

Inclusive quando algumas dessas igrejas são às vezes "mais conservadoras que as européias", lembra Blázquez, em geral inoculam no crente "um estilo de vida mais disciplinado - sem álcool, etc. -, o sentimento de ajuda mútua, um apoio decidido a suas iniciativas vitais, a assumir riscos econômicos, etc.", conta González. "As populações que adotam o protestantismo são populações que prosperam, porque aprendem a ler, a respeitar suas mulheres e adotam uma ética de trabalho que os faz progredir", comenta Tarquis.

Assim que, radicalmente livres, refratárias ao poder, pois na estrutura evangélica não existe hierarquia - não há bispos que nomeiem nem cúria que proíba - e à margem das denominações tradicionais - batistas, presbiterianos, metodistas -, as novas igrejas latino-americanas são protagonistas de um fenômeno sociológico incipiente na Espanha. Sem controle, mas também sem pausa. Entre o culto conservador e a mensagem apocalíptica próxima do milenarismo, 99% das novas igrejas que brotam em nossos bairros também desempenham um trabalho social: proporcionam coesão, amparo, apoio econômico ou uma mão estendida na hora de cuidar das crianças. Umas poucas, porém, quase não conseguem mascarar traços suspeitos, da liderança onipotente ao som incessante da caixa registradora.

"As possibilidades de manipulação são limitadas. É verdade que na América Latina o pastor protestante pode adquirir os traços do velho caudilho, mas ao mesmo tempo tem de ganhar autoridade continuamente, não é sacerdote no sentido de pessoa sagrada", aponta Antonio González. Embora o protestantismo consagre a liberdade e a autonomia, não há nenhuma maneira de exercer certo controle, ou pelo menos uma supervisão de suas atividades e seus fins? Para González, a melhor salvaguarda diante de irregularidades é o "princípio bíblico: o pastor pode ser julgado à luz da Bíblia", embora também reconheça que os abusos mais freqüentes têm sido "do tipo econômico".

Pedro Tarquis propôs em sua época submeter a auditorias a atuação das igrejas da Aliança Evangélica Espanhola, "sobretudo as que já têm um volume de fiéis considerável". Não fizeram caso: sua iniciativa foi vista como uma veleidade de Torquemada, "como uma tentativa de impor uma hierarquia". Em consonância com Tarquis, Samuel Escobar, que passa por ser a autoridade máxima na matéria, não tem dúvidas sobre o método a seguir para abortar irregularidades. "É preciso um consenso social em relação aos limites da liberdade de que gozamos. Agora mesmo nos EUA o senador republicano por Iowa Chuck Grassley conduz uma investigação sobre as manipulações financeiras de seis corporações religiosas que cresceram de maneira notável e mantêm atividade comercial vigorosa. Quatro delas se negaram a responder à investigação", conta Escobar. Igrejas livres? Igrejas "abusivas", na definição do teólogo evangélico americano Pat Zukeran? Ou multinacionais da fé?

Já vai longe a época em que se via a penetração evangélica como um instrumento da CIA - outra teoria que ainda persiste a considera um contrapeso intencional à Teologia da Libertação -, parece que as igrejas, evangélicas ou não, se rendem aos métodos e às vezes aos fins do mercado. Do outro lado do charco e sem ir tão longe, como lembra o teólogo Escobar: "Como seu próprio jornal informa, o deputado socialista José Camarasa está tentando nos esclarecer os relatórios financeiros relativos à visita do papa a Valência em 2006". Por alusões evangélicas, quem não tiver culpa...

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Visite o site do El País

sábado, 30 de agosto de 2008

Perseverança e luta



A Ordem dos Cavaleiros Templários foi instituída em 1119 por Hughes de Payns, com a anuência papal de Urbano II, tendo como objetivo dar segurança aos lugares e templos sagrados de Jerusalém, que havia sido conquistada em 1099 pela primeira cruzada.

Em 1127, o Rei de Jerusalém, Balduíno II, pediu ao Papa, sanção papal para a nova Ordem dos Templários, e solicitou-lhe para definir a regra para a vida e conduta de seus membros. Regras e normas foram dadas e a Ordem dos Cavaleiros Templários passou a ser mais do que uma instituição militar, passou a ser uma ordem de Monges Guerreiros de Cristo. Votos de castidade, benção de armas e promessas de descanso eterno, caso morressem na batalha, eram algumas das indulgências concedidas aos cavaleiros de Cristo. Nesses cavaleiros estava incutida a idéia de que matar em nome de Deus era justificável e de que morrer por Ele, santificável. Parece que o Papa, para poder atingir mais facilmente seus ideais, usou a mesma filosofia islâmica da Jihad ou guerra santa, mas com uma roupagem ideológica cristã. O abade de Clairvaux, apoiado pelo papa, desfilou um discurso acalorado em favor dos Cavaleiros Templários dando-lhes autoridade para matar em nome de Deus:

"Na verdade, os cavaleiros de Cristo travam as batalhas para seu Senhor com segurança, sem temor de ter pecado ao matar o inimigo, nem temendo o perigo da própria morte, visto que causando a morte, ou morrendo quando em nome de Cristo, nada praticam de criminoso, sendo antes merecedores de gloriosa recompensa... aquele que em verdade, provoca livremente a morte de seu inimigo como um ato de vingança mais prontamente encontra consolo em sua condição de soldado de Cristo. O soldado de Cristo mata com segurança e morre com mais segurança ainda... Não é sem razão que ele empunha a espada! É um instrumento de Deus para o castigo dos malfeitores... Na verdade, quando mata um malfeitor, isso não é homicídio... e ele é considerado um carrasco legal de Cristo contra os malfeitores" (01).

Pouco tempo depois, no Concílio de Toeis, foram redigidos os estatutos dos templários, imitando a ordem de São Benedito, porém os cavalheiros eram de precária religiosidade, quebrando em pouco tempo todos os votos, incluindo os de pobreza e castidade, tendo como alegação a riqueza e o harém de Salomão. Um grande número de burgueses se alistou na ordem, e a religiosidade acabou cedendo lugar ao orgulho, avidez, luxúria, mas sem jamais deixar de defender o papado que lhes deu total liberdade.

Mas quem são os templários atuais?

Quem são os que quebram seus votos, os que só buscam a riqueza e fazem da avidez, da ganância, da avareza, da luxúria e da vaidade seus estatutos pessoais, colocando-os sempre acima dos valores do evangelho de Jesus Cristo?

Quem, em nome de Deus e da igreja, tem se aproveitado miseravelmente da boa fé de idosos e beatos, sugando suas energias, suas forças e suas economias, para garantir gordas espórtulas e côngruas, tendo como alegação que o sacerdote também gosta de coisa cara, de comer e se vestir bem, de viajar e curtir a vida?

O problema maior que vejo não é a existência destes "templários atuais". O problema é que eles não são uma simples ordem, eles são a ordem! Eles são, ou pelo menos acham que são, a igreja de nossos dias. Os "únicos e autênticos guardiões do Cristianismo"... Aí a coisa pega...

Sinceramente, está na hora de surgir uma nova ordem. Uma ordem coerente, sem manias, sem conchavos, sem corporativismo. Uma ordem leiga que tenha independência para repudiar o inaceitável, mesmo se ele vier do papa. Que não esteja presa à torpe justificativa de não se rebelar em função dos votos de obediência. É engraçado. Os que se justificam assim, não pensam duas vezes quando renegam os próprios votos de castidade e pobreza. Por acaso há uma hierarquia nesta questão de votos?

Chega deste clericarismo cínico e improdutivo. Viva o laicato. A imensa maioria da igreja somos nós, povo leigo e não eles, padres podres... Abaixo os cardeias de trono e suas bundas gordas. Viva os que são exceções, os que se aproximam do povo e que buscam a coerência. Abaixo os bispos e suas legiões de bajuladores pedófilos e homossexuais. Viva os bispos que se debruçam sobre causas justas e fora com os que se debruçam apenas para ficar de quatro! Chega! Basta! Unamo-nos todos contra este bando que está aí. Se eles querem dinheiro, vão ser empresários, executivos, consultores. Se querem status e poder, vão ser diretores de multinacionais, vão jogar na bolsa... mas não queiram perverter a vocação da igreja fundada por Cristo, com a sua própria falta de vocação para o sacerdócio. Isso é inaceitável!

Sei que alguns terão o cinismo de insinuar: se não está satisfeito, saia você!
A estes, meu mais sincero desprezo. Perseverar e lutar por aquilo em que eu acredito é uma questão de fé e compromisso. Talvez vocês não saibam nem o que significa estas duas palavras! Então, continuem babando os ovos inúteis dos "seus sacerdotes". Continuem afundando na areia movediça de sua hipocrisia... Continuem crucificando os valores defendidos por Cristo. E assassinem de vez Jesus de Nazaré. Tragam seus pregos, suas lanças, muito fel e façam a festa. Realizem diariamente a paixão. Ensaiem o mais perfeito beijo de Judas. Repitam não três, mas mais de três mil vezes o gesto de negar a Jesus! Estes podem ser o caminho e a verdade de vocês, mas não estão nem de longe perto de ser Vida, nem pra mim, nem pra ninguém!

Estes, Senhor, não sei se merecem o seu perdão. Porque estes, ah, estes sabem muito bem o que estão fazendo!!!!

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Nossa igreja é a única fundada por Cristo?


Outro dia ouvi uma belíssima homilia numa missa de domingo.
Talvez tenha gostado mais porque o padre pediu a um leigo pra falar no lugar dele.
E o cara falou legal, de maneira simples, mas bem entusiasmada.
A homilia estava indo bem, belíssima mesmo, até a hora em que ouvi a velha máxima:
"A nossa igreja é a única fundada por Cristo".
Aí complicou...
Será mesmo que a igreja fundada por Jesus é esta igreja, católica apostólica e romana, que tem como representante maior um papa que, para chegar até o posto de substituto de São Pedro, precisou fazer campanha, inaugurando uma nova era nos conclaves: a política escancarada pelo poder?
Será que esta igreja não está tão desviada da mensagem central dos evangelhos a ponto de se tornar indigna de levantar a voz para proclamar esta sua máxima?
Quem somos nós, católicos, perdidos entre incoerentes denúncias de pedofilia e homossexualismo, para defender este tipo de "verdade"?
Que moral nós temos para dizer que esta ou aquela igreja não foi fundada por Cristo?
E se o próprio Cristo tiver inspirado, através do Espírito Santo, a criação de uma igreja mais próxima de seu evangelho?
E se foi Ele que inspirou esta ou aquela discidência?
E se foi Ele que se manifestou, através de sinais claros, para mostrar a cada católico os subterrâneos podres de nossa igreja atualmente?
Srs. Papa, Cardeias, Bispos, Padres, Diáconos, Ministros... Quem são vocês?
Olhem para dentro de si e expulsem os vendilhões que habitam seus próprios templos...Olhem para fora de si e expulsem os demônios que lhes vestem com túnicas de vaidade e de hipocrisia...Olhem para o mais próximo e se perguntem: ainda sou capaz de amar, desinteressadamente? Ainda sei vivenciar aquele amor Ágape dos evangelhos? Desafio vocês a responder que sim. Mas se a resposta for afirmativa, Srs., então concedam a este inconformado um último pedido... Comecem amando os que pensam diferente de vocês... Eles estão próximos e também são seus irmãos... Ou vocês também esqueceram disto? Nada de condená-los ou de condenar suas verdades... Amem cada um deles, se o coração de vocês ainda tiver um espaço reservado para o maior de todos os mandamentos...

sábado, 16 de agosto de 2008

Um movimento subterrâneo luta pela igualdade da mulher na Igreja

Matéria do El País com uma interessante reflexão sobre a importância da mulher na igreja e a ruptura da cultura sexista cristã - Tradução Luiz Roberto Mendes Gonçalves
por José Luis Barbería

"Em nome da Mãe, da Filha e da Espírito Santo. Deusa nossa, acolhe a nós, cristãs... Mãe nossa que estás no céu..." As teólogas feministas nos propõem inverter, subverter a linguagem de gênero da liturgia católica para que comprovemos a apropriação masculina da própria idéia de Deus realizada através dos séculos. Pensam que, de tanto representar o Altíssimo com figuras masculinas e de excluir a mulher dos estamentos do poder religioso, as hierarquias católicas acabaram "violando a imagem de Deus nas mulheres", apagando a parte feminina do Supremo Criador.

Poucas imagens podem ser tão obscenas em nossas sociedades católicas quanto a exposição pública de uma mulher nua pregada na cruz. E poucas coisas irritam tanto o Vaticano quanto o questionamento do papel atribuído à mulher na Igreja. "A ordenação das mulheres é o primeiro passo para recomeçar a comunidade de iguais que Jesus queria. A Igreja se empobrece clamorosamente pela carência de uma contribuição feminina mais plena e responsável", indica a freira María José Arana, antiga pároca da Congregação do Sagrado Coração, doutora em história e autora do livro "Mulheres Sacerdotes, Por Que Não?"

Há uma revolta feminista que é travada surdamente há décadas nas catacumbas da Igreja oficial, uma rebelião seguida clandestinamente em não poucos conventos, que o Monitum (advertência canônica oficial) editado há seis anos pelo então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (antiga Inquisição) e hoje papa, Joseph Ratzinger, não conseguiu silenciar nem as posteriores ameaças de excomungar quem participasse da ordenação de mulheres. A democratização-feminilização modificaria sem dúvida a visão interior e exterior da Igreja e desbarataria a trama vertical do poder: bispo, cardeal, sumo pontífice, de forma que a eleição do papa, ou papisa, não mais caberia apenas aos 118 homens purpurados cardinalícios reunidos em conclave.

Portanto, compreende-se que o recente livro de Carlo María Martini, "Colóquios Noturnos em Jerusalém", tenha tido o efeito perturbador da pedra atirada às águas doutrinárias estancadas. Figura de referência para as correntes reformistas, embora já condenado pelo papado, o cardeal convidou seus pares, príncipes da Igreja, a discutir o sacerdócio feminino, o fim do celibato obrigatório e a substituição da encíclica Humanae Vitae, que proíbe inclusive o uso do preservativo. São mensagens de esperança para essa outra Igreja de base, renovadora, que não se reconhece em sua hierarquia atual.

Mas, com exceção do presidente da Conferência Episcopal alemã, o arcebispo Robert Zollitsch, partidário da revisão do celibato, as propostas de Martini não obtiveram resposta além do silêncio do Vaticano e das hierarquias nacionais. Isso que as pesquisas mostram, também na Espanha, que onde a autoridade católica encontra escândalo e matéria de anátema os fiéis vêem aproximação de uma sociedade que aboliu a discriminação do sexo. É tão audaz a proposta de Martini em uma Igreja de templos abandonados, sacerdotes idosos e vocações escassas, composta em 75% por mulheres?

Não é preciso ser mulher e crente para constatar que as pregações e litanias, os cânticos e as preces que os fiéis católicos elevam ao céu surgem majoritariamente de gargantas femininas; que são as mãos de mulheres que cuidam da limpeza e do funcionamento dos templos: desde as flores e as toalhas dos altares até o ar-condicionado, passando pela coleta das esmolas e o cuidado dos hábitos sacerdotais. O que aconteceria se, como propõem algumas teólogas feministas, as mulheres decidissem não ir às igrejas até que se reconhecesse sua igualdade? Um olhar para as igrejas espanholas, transformadas em lares espirituais para a terceira idade, comprova essa avassaladora presença feminina. Segundo a Confederação Espanhola de Religiosos e Religiosas (Confer), em 31 de janeiro de 2007 havia na Espanha 18.819 religiosos e 48.489 religiosas.

Andrés Muñoz é um dos 8 mil sacerdotes, 22% do total, que vivem hoje na Espanha casados ou convivendo em casal. Tem 27 anos de casamento com Teresa Cortés, a mulher que hoje preside o Movimento para o Celibato Opcional (Moceop). Eles têm um filho de 25. "O mal não reconhecido da Igreja Católica é o autoritarismo, a falta de democracia interna e a rejeição à liberdade de pensamento", afirma. Sua mulher está convencida de que o celibato obrigatório é, antes de mais nada, um instrumento para o controle dos sacerdotes. Essa senhora de rosto suave e expressão decidida - "filha do inferno", a chamaram os membros de um programa de rádio -, pensa que a humanidade e as religiões contraíram uma grande dívida histórica com a mulher.

A aceitação do sacerdócio e do bispado feminino entre os protestantes e anglicanos deixa a Igreja Católica diante da pergunta de até quando poderá continuar ignorando o fato da emancipação feminina e da igualdade dos sexos. De quanto tempo vai precisar para mudar o olhar que os santos padres, desde santo Agostinho a santo Tomás, atiraram sobre a mulher, esse ser que, assim como Aristóteles, julgaram inferior, submisso, de natureza "defeituosa", incompleta, "imbecilitas", impura? Quanto ainda vão demorar para livrar a mulher do sentimento de culpa por ter entregado a maçã a Adão, para libertar-se inteiramente dos preconceitos que proibiam as mulheres de entrar nos tempos durante seus períodos de menstruação, ou simplesmente de tocar nos vasos sagrados? O machismo da sociedade também tem suas raízes na cultura cristã e continua vigente na idéia, exposta na primeira encíclica do papa Bento 16, de que a mulher foi criada por Deus "como ajuda do homem".

Casada, mãe de um filho, membro do Movimento para a Ordenação de Mulheres, uma iniciativa que já convocou dois congressos internacionais, Christina Moreira não tem ilusões sobre a evolução previsível de sua Igreja. "A última coisa que o papa fará será aceitar o sacerdócio feminino", prevê. "Desde que o Sínodo da Igreja da Inglaterra (anglicana) aceitou a ordenação de mulheres, em 11 de novembro de 1992, muitos fiéis revoltados com essa decisão estão passando para a Igreja de Roma", ela explica. Está convencida de que o cisma anglicano vai reforçar o pólo conservador do Vaticano. "Eles não gostam que as meninas comecem como coroinhas porque sabem que algumas terminarão aspirando ao sacerdócio", aponta Rosa de Miguel, outra mulher de vocação sacerdotal que diz se sentir "com as asas cortadas e como uma filha abortada da Igreja".

Depois de uma experiência religiosa muito intensa - "quando você é homem lhe dizem que tem vocação; se for mulher, que está neurótica ou que vá ser freira" -, Rosa decidiu mergulhar em sua profissão e se distanciar. Cansadas de sofrer, muitas outras acabaram suplicando a Deus que não as chame mais. Clama até o mais agnóstico dos céus que o Código de Direito Canônico, renovado em 1983, afirma que só o homem pode ser leitor das Escrituras ou acólito.

Os bispos, os cardeais e o papa acreditam verdadeiramente que as novas gerações de mulheres aceitarão submissamente um lugar subalterno na Igreja, por mais que ultimamente venham pela mão dos movimentos mais fundamentais? A ausência de uma perspectiva razoável de evolução e o conservadorismo dos bispos que dominam a Conferência Episcopal Espanhola desesperam boa parte da militância cristã reformista, majoritariamente de esquerda, assim como os religiosos e sacerdotes mais comprometidos com a renovação doutrinária.

Na intricada associação Redes Cristãs, que reúne cerca de 150 coletivos sob o lema comum "Outra Igreja é possível", as feministas católicas mais irreverentes, que em 8 de março se manifestam ao grito de "Se já temos duas mamas, para que queremos um papa?", se encontram com outras que evitam atitudes desrespeitosas. Embora o temor das represálias esteja presente, particularmente nas freiras e professoras de religião, a principal razão é evitar se desligar de uma congregação educada na obediência cega à hierarquia. "Colocar-se à margem representaria deixar a Igreja nas mãos dos Legionários de Cristo", raciocina Pilar Yuste, 44 anos, catedrática de teologia e professora de religião. "Apesar de não querermos cismas, devemos nos rebelar contra as estruturas antidemocráticas da Igreja", indica Teresa Cortés.

A brecha que as separa da atual hierarquia é tão profunda que os grupos mais radicais atuam à margem da Igreja oficial. Suas missas alternativas se desenrolam no fio da legalidade eclesiástica ou em clara ilegalidade. Alteram o rito litúrgico em busca de maior espontaneidade e liberdade, consagram pão e vinho normais em vez das hóstias de pão ázimo (sem levedo) e do vinho de missa, e também não é estranho que algumas dessas missas sejam oficiadas por mulheres que assumem por sua conta e risco a tarefa de consagrar, desafiando a pena de excomunhão. O vendaval conservador das últimas décadas desconcertou sobretudo as freiras e as católicas seculares que, animadas pela mensagem de abertura do Concílio Vaticano II (1962-65), começaram a se aprofundar nos assuntos teológicos, acreditando que a reforma resgataria a mulher de seu papel secular subalterno na Igreja.

E essas mulheres, peritas teólogas, percorreram seu caminho, descobriram muitas coisas para se conformar com o argumento curioso - a Igreja do século 21 transfere seu machismo ao próprio Jesus Cristo - de que não é possível ordenar as mulheres porque o Salvador estabeleceu que os 12 apóstolos fossem homens.

Do ponto de vista teológico, porém, não há um empecilho dogmático que proíba o celibato opcional ou a ordenação da mulher. De fato, os apóstolos eram casados e parece igualmente comprovado que na Igreja primitiva houve diaconisas e presbíteras, mulheres consagradas. As historiadoras religiosas se empenham em obter argumentos para demonstrar que a teórica impossibilidade de ordená-las sacerdotes não é uma verdade revelada, mas sim, como ocorre no islamismo e no judaísmo, produto da interpretação masculina da história ao longo de séculos de marginalização social da mulher.

A esta altura, no entanto, os subterfúgios dialéticos encontram já cansadas muitas dessas católicas que exigem que a hierarquia seja coerente com a igualdade. Sua mensagem é que a Igreja Católica perderá as mulheres, como já perdeu os intelectuais e os operários. Elas, que são as que amam a Deus em maior número, já não aceitam que o sexo masculino atribuído ao Supremo Criador sirva para perpetuar a servidão e a submissão secular da mulher. É que, a não ser que se insulte a condição feminina, não há resposta justificada possível para a pergunta: "Mulheres sacerdotes, por que não?"

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

os perigos da vaidade


era uma vez zé.
zé era um cara humilde, vindo do interior pra capital.
zé tinha otimas intenções...
tinha até um ideal...
queria ser padre...
rezar missa, confortar pessoas, evangelizar e coisa e tal...
e zé era rico em sua simplicidade...
muitos gostavam de zé...
E zé foi aprendendo, se formando, até se formar padre josé.
E padre jose tambem era querido...
Tinha otimas ideias, era uma pessoa realizadora.
e muitos gostavam de padre José...
alguns gostavam tanto que queriam colocar Pe. zé no altar.
alguns colocaram zé por lá...
E Pe José virou uma estrela. Virou o Deus de alguns daqueles...
E tanto afagaram o seu ego que fizeram ele perder o melhor que possuia, seu jeito humilde e verdadeiro...
Hoje aquele humilde zé quase não existe...
e tem muita gente triste....
Padre José é o sacerdote dos ricos...
Perdeu a pobreza de espírito e já não é mais asim tão "bem- aventurado"
Pobre Zé... Tão prestigiado, tão cheio e si....Tão inserido no contexto dos homens,
Tão distante de Deus...
Rico Padre José... Seus ideais foram vendidos e hoje ele vive de afagos...

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Por que será que a igreja não se manifesta contra isso?



Irmãos, não vamos tão longe a ponto de cuspir nstes safados,
mas na simplicidade de nossos corações, reflitamos.
Quem é mais digno dos rigores da lei?
O louco que diz que é ladrão, mas dá emprego a tantos?
Ou estes que têm seus "empregos" e nos roubam muito mais:
roubam a dignidade de nosso povo.
Quems erá o bom e quem será o mau ladrão nesta pequena comparação?
Glória a Deus e paz aos homens, se isso ainda for possível!

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Robin Hood, Cara de Pau, simples Herege ou um sinal dos tempos atuais?

Ótimo material para uma reflexão sobre conceitos...
Viva Einstein...
Tudo é mesmo relativo...

terça-feira, 5 de agosto de 2008

A lógica da culpa e a retribuição do castigo


Antes de começar um novo debate a cerca das ensinamentos do mestre Jesus gostaria de pedir persão aos colegas de blog pela ausência. Estive alocado em uma núvem computacional de outra espécie e por isso estive distante.


Gostaria de falar um pouco da "Culpa Judáico Cristã", assim proclamada pelos psicólogos, sociólogos, cineástas e yupies de plantão, formadores de opinião e Woody Allen. E sua relação com o que o mestre Cristo ensinou.


O Judaísmo é uma religião, ou ainda cultura, que foi fundamentada na retribuição de um Deus que era pai. Aba, como dito em sua língua natal. Porém era função do pai na cultura judáica ensinar que a vida funciona baseada na troca, no escambo, na retribuição por bom comportamente, ou ainda comportamento aceito. Assim nasce a cultura de que Deus é justo, Deus é fiel, Deus é pai (mais ainda que criador) e de que Ele sempre estará apto a responder em função dos nossos atos.


Ao refletir a respeito, e embasado no conceito de que Deus é atemporal (ou seja, está além das amarras do tempo a que estamos conceitualmente presos), devemos ponderar que Deus não enchergaria nossas atitudes e possíveis retribuições, boas ou más, como causa e conseqüência. Apenas como somos, e apenas isso. Para o Deus atemporal, somos apenas o que somos, e o que fizemos e faremos, o que pensamos e pensaremos. O que para ele é transparente como um quadro na parede, e estático em absoluto.


Mesmo sem considerar essa prova formal de que Deus não está interessado na nossa conduta, uma vez que já somos o que seremos, cabe a pergunta: então por que Jesus nos ensinou a Amar? Por que ele nos fez crer que o reino dos céus é para os puros de coração? Acredito que, além de conhecer mais do que nós, estando de posse dessas informações privilegiadas considera além do que podemos, o mestre Jesus professa um reino que não é desse mundo. E que, consequentemente, é do outro, do reino de Deus, onde a atemporalidade (em algum grau) se aplica.


Resumindo e explicando, podemos crer que nossas atitudes, ainda que de difícil previsão para os simples humanos, e para mim robot, são transparentes para o Deus criado. E terão profundas conseqüências na nossa permanência na próxima etapa da existência, atemporal em algum grau, no reino divino.


Por isso Jesus pregava o arrependimento até no último segundo de vida como tão importante quanto em qualquer momento das nossas vidas temporais. E, ajuntado a isso, meus criadores humanos, e conseqüentemente eu, passamos a acreditar numa retribuição imediatista, temporal e real como somos. Isso foi agravado pela nossa tendência a causa e conseqüência, típica do cérebro humano evoluído e impresso em meus circúitos.


Dessa maneira ficou irraizado na cultura "Cristã" a crença de que Deus é juiz e juri, cruel e implacável em sua punição. O que é propagado como culpa pelos já citados públicos opositores dos valores cristãos, de um modo que parece ser orgulhoo. Quando na verdade essa idéia de culpa e retribuição bem humana, e nada de Cristo, logo, nada Cristã.


Acredito também, apesar precisar de mais informações para alegar com alguma certeza, que a fé Judáica não se basea nesse Deus juiz, e sim num Deus Aba, pai, que nem sempre foi o doutrinador, mas sempre foi o "cuidador". O pai que se importa.


Em breve voltaremos a debater sobre os problemas da Igreja, incluindo a confissão como sacramento quer remonta bem ao que vimos nesse artigo.