sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Sinais úteis de presenças incómodas

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Gosto de ler entrevistas. A entrevista é hoje uma modalidade frequente de comunicação, onde a pessoa se mostra a si mesma, ao seu mundo interior e às suas vivências. Aí se vê a riqueza de muitas vidas e, também, o vazio e o sem-sentido de tantas outras.
Por vezes, o entrevistador indaga sobre a adesão religiosa do entrevistado. Não deixa de ter interesse poder ver como muitos falam de si na relação com o mundo do religioso. Outros não precisam que se lhes pergunte. Faz parte das suas vivências e preocupações, mesmo que a sua posição, perante Deus e a Igreja, não seja de adesão total ou de prática regular.
Li a entrevista de Fernando Nobre a Noticias Magazine de 21 de Setembro. O fundador e presidente da AMI é um homem fascinante pela sua generosidade e entrega, com o ideal evangélico de “fazer o bem sem olhar a quem”, expondo-se a perigos constantes e animando missões de ajuda médica e de promoção humana nos países mais pobres do mundo e no meio das mais perigosas e exterminadoras situações de guerra. Quando há anos estive na televisão, em directo, com Fernando Nobre, a convite do jornalista José Manuel Barata Feio, admirei a sua serenidade, cultura e capacidade de reflexão, em relação a problemas difíceis e melindrosos, era o caso que ali nos reunia, que não se apreciam com demagogias, nem com opiniões superficiais.
Fernando Nobre, que preside a uma associação não confessional, laica como ele próprio diz na entrevista, fala do seu “respeito pelos missionários, seja de que tendência forem” Vai-os conhecendo por esse mundo fora, a viver e a lutar, nas situações mais difíceis e penosas, como “pessoas com imensa fé que conseguem fazer um trabalho extraordinário em prol dos outros”. E conta, mais adiante, que ao dirigir-se para uma missão muito difícil de ajuda às vitimas do tsunami, no Sri Lanka, esperava-o, no aeroporto, um padre que ele não conhecia, nem por ele era conhecido. Ostentava um cartaz com o seu nome e disse-lhe que soubera da sua vinda, por um relatório da Comissão dos Direitos Humanos na Ásia e que chegaria naquele mesmo avião. Foi graças a este padre que, como ele, vivia a urgência do amor e da solidariedade, que se pôde montar, de imediato, em rede de colaboração, a missão urgente de ajuda a um povo destruído.
Impressionam-me, pelos preconceitos e pelas omissões e entraves que provocam, as atitudes de gente, dita evoluída e preocupada com os outros, que fala da Igreja e do fenómeno religioso, com desdém e arrogância. Atitudes ao arrepio da realidade e da verdade objectiva, que nada constroem e muito destroem. Pessoas livres e comprometidas, sabem distinguir, colaborar e aceitar colaboração. A Igreja e os cristãos coerentes são incómodos, mas estão sempre presentes onde faz falta, mormente ante a dor e a miséria de tanta gente. É o seu dever. Também ele precisa de apoio.

Opinião | D. António Marcelino| 02/10/2008 | 17:03 | 2840 Caracteres
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Um comentário:

Didier disse...

Isso com toda a certeza..Se afastar da luta, do dia a dia, da troca, é omissão, é ser morno, é não guardar a fé..