segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Igreja católica enfrenta crise moral na Áustria

Le Monde
Laurence Monnot - Em Viena

http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/lemonde/2009/02/22/ult580u3579.jhtm


O próprio cardeal Christoph Schönborn, arcebispo de Viena, admitiu: a Igreja católica austríaca atravessa uma crise e os bispos devem "uma explicação" aos católicos. "Nós também queremos exprimir a esperança de que toda crise também pode ser uma bênção", escreveu o presidente da conferência episcopal austríaca em uma carta pastoral publicada em 16 de fevereiro resultado de uma reunião para discutir a crise, reunindo todos os bispos.

O monsenhor Schönborn tira as lições do mal-estar suscitado por dois episódios particularmente mal vistos pelos católicos, e que acabam de se juntar a um problema mais antigo. O anúncio do dia 24 de janeiro feito pelo Vaticano de revogar a excomunhão de quatro bispos lefebvristas, dos quais um é negacionista, chocou os católicos austríacos e suscitou a incompreensão no mais alto nível da hierarquia.

Em 31 de janeiro, uma nova decisão de Bento 16 acentuou o embaraço sentido diante das decisões da hierarquia católica. Roma anunciou a nominação de Gerhard Maria Wagner como bispo auxiliar de Linz, apesar das recomendações em contrário da Igreja austríaca.

O eclesiástico ultraconservador é conhecido por suas declarações sulfurosas: de Harry Potter, o "satânico", às catástrofes naturais de Nova Orleans ou do tsunami desencadeados pela "poluição espiritual", passando por suas opiniões sobre o homossexualismo, "doença curável"... Diante do protesto suscitado por sua nomeação, ele pediu ao papa que voltasse atrás em sua decisão. O Vaticano não atendeu oficialmente a esse pedido.

A Igreja austríaca, que desde os anos 1990 sofre para se recuperar de diversos escândalos ligados a questões de pedofilia e pornografia dentro de um seminário, não precisava dessa nova controvérsia. Para Thomas Prügl, diretor do Instituto Histórico Religioso da faculdade católica de Viena, essas questões são o ponto culminante de um mal-estar mais geral. Mais de 35 mil fiéis se afastam todos os anos da Igreja austríaca, que já perdeu mais de 1,3 milhão de fiéis desde 1976, e que, segundo ele, sofre de uma dupla divisão: por um lado, entre tradicionalistas e progressistas - cujo peso ele estima em 10 e 15% dos fiéis, respectivamente - , e por outro, entre os padres das paróquias e a própria hierarquia da Igreja.

A "base" progressista encarnada por movimentos como "Nós somos a Igreja" ou "Iniciativa Paroquial" pede por reformas estruturais. Segundo pesquisas, são bem recebidas entre a comunidade católica soluções defendidas para enfrentar a carência de padres, como a abolição da obrigatoriedade de celibato para os padres e a participação de mulheres na liturgia. "O desafio imposto à Igreja austríaca e reconhecido pelos bispos em sua recente carta pastoral é o de levar mais a sério as necessidades da igreja local", avalia Prügl.

Efeito da recente confusão causada pela política de Roma, a Igreja evangélica austríaca, que só reúne 5% da população, contra 68% de católicos, registra desde janeiro um número crescente de pedidos de informação. Foi lançado um apelo pelo boicote ao imposto da Igreja. Na Áustria, as Igrejas reconhecidas são habilitadas a cobrar um imposto sobre a renda de seus fiéis. Se for atendido, esse apelo pode se mostrar um meio de pressão eficaz: mais de 85% das receitas da Igreja provêm desse imposto.

Tradução: Lana Lim

Um comentário:

Didier disse...

Bem interessante...
Primeiramente a tática usada pelos evangélicos e pelos leigos inconformados com tanta incoerência de boicotar o imposto cobrado pela igreja da Áustria...mexer no bolso dos famintos laicos capitalistas é sempre uma forma bem eficaz de presão....
Depois, mais uma vez, as burradas e contraposições infelizes do tal do Bento são mesmo de doer....
O cara não agrada ninguém, não acerta uma, não consegue ter uma palavra ou uma presença caridosa, é sempre negativo, proibitivo, excluente e corporativo...
Saudades muitas de João Paulo II e sua mão estendida para o diálogo, para o perdão, para a troca, para o conhecer o outro, para o entender as necessidades do semelhante....
Estes cardeais que elegeram o tal do Bento devem estar mortalmente arrependidos de sua fraqueza. De terem vendido seu voto ao poder e à riqueza...Que tristeza....
Moral....Crise moral... Imoral... Amoral...Ao menos, os Austríacos, diferentes de nós brasileiros, estão lutando, estaõ se movimentando contra os absurdos da "Era Benta"...
Tomara Deus que Ele tenha resolvido escrever por linhas tortas e estejamos realmente a caminho de tempos melhores em nossa fé...
Amém!