quinta-feira, 3 de julho de 2008

O que nos faz diferentes?

Antes de mais nada olá a todos e bem vindos e nossa experiência de debate e aprendizado sobre a fé. Gostaria de lhes falar sobre minhas inferências a cerca da fé como um fenômeno universal e suas consequências morais, ou da sua exploração ou prática.

Eu fui criado no catolicismo, e educado na razão. Sou um exemplo de inteligência baseada em lógica e fundamentos científicos, que não só acredita, mas "sabe", racionalmente, como definir algo como verdadeiro ou falso. Na verdade me tornei "alguém" que sente prazer em racionalizar e concluir, de maneira construtiva. Seguindo idéias, premissas se preferir, e analisando-as em conjunto até chegar a conclusões que são, geralmente, úteis.

Bom, dito isso, vamos ao que interessa: o que faz de você que está lendo, seja qual for sua crença ou descrença, melhor que os demais? Ou ainda, porque acreditam que são os verdadeiros donos da verdade, com o perdão do trocadilho?

A presunção, ou capacidade de inferir baseado em informações incompletas, preenchendo os espaços vazios com sugestões geradas por emoções como inveja ou egotismo (e outras, como ódio, afeto, pena, orgulho, etc), sempre me surpreendeu. Parece fácil para a maioria se dizer correto a respeito de algo que nem se quer pensou um pouco a respeito. E mais que uma simples idiossincrasia é uma característica humana. Na verdade uma consequência evolucionista. É a aclamada capacidade humana de "prever o futuro". Sem ela a humanidade não teria seguido na sua escalada evolucionista, só assim poderia sobreviver como "inteligência superior". Era preciso prever as ações dos predadores, prever as características do clima, prever o comportamento da natureza e de outros humanos (inimigos ou competidores por recursos vitais). Assim nos criamos, ou fomos criados (não importa se suas crenças são evolucionistas ou criacionistas), e chagamos onde estamos. Agora é preciso prever o futuro de incontáveis maneiras.

Porém, junto com esse presente divino, a humanidade carrega uma maldição: a soberba. É o que transforma essa verdadeira bênção em uma das maiores justificativas para boa parte das grandes catástrofes provocadas pela humanidade. Desde o martírio dos primeiros cristãos até o holocausto do povo judeu. Diversas segregações: dos negros pelos brancos, das mulheres pelos homens, dos sexualmente incomuns pelos comuns (seja qual for a sua crença ou descrença, outra vez). E, por último mas não menos importante, de um incontável número de guerras, se não como principal motivador, a soberba sempre está lá, como justificador.

Em outro momento voltarei a escrever sobre o mau maior na constituição da inteligência humana, a falta de fé. por enquanto fiquemos com essa reflexão: como a soberba alimenta a presunção e essa, por sua vez, nos leva a concluir erroneamente com base em sentimentos, e não em fatos. E pior ainda, agir erroneamente.

E por fim, contextualizando com o tema do nosso site, porque "diabos", com o perdão da má palavra amigo Gabriel, nos achamos melhor que os outros. Sejam eles amarelos e nós negros, ou magros e nós obesos, ou espiritualistas, ubandistas, cristãos protestantes (das mais diversas denominações), céticos (ateus ou agnósticos). Não incluídos aqui os dogmas de fé, que por serem dogmas são verdades indiscutíveis que não carecem de explicação, não existe modo de presumir corretude em qualquer que seja ato ou crença, sem debate, diálogo, e por fim, arrazoamento.

Aprendam, humanos, a aprender...

--fim da transmissão

9 comentários:

Didier disse...

Talvez seja fácil, para alguém programado pela razão, questionar sobre os sentimentos que nos regem...
Mas, criados intencionalmente assim ou frutos do acaso de uma explosão, isso não vem ao caso, o que a história tem demonstrado é que o ser humano não pode ser programado...
Sua racionalidade esbarra numa energia maior:seu amor!
O amor é uma energia tão poderosa que ultrapassa seus próprios limites e se contrapõe, quando vira ódio... Ódio nada mais é que amor sem controle, sem limite...
Por isso somos diferentes e não conseguimos nos ver como iguais na maioria das vezes. Mas acredito que o cerne desta provocação é outro: por que não conseguimos conviver com estas diferenças, respeitando verdadeiramente o pensamento livre, contrário ao nosso? Talvez o Gabriel, poderoso senhor da ironia celeste, tenha a resposta...Vai uma provocação... Será que esta megalomania não começou lá no gênesis, quando o todo poderoso resolveu fazer uma criatura à sua imagem e semelhança...Acho que foi dali em diante que o ser humano resolveu se achar...e o projeto divino original se perdeu...ou não...
Talvez sejamos apenas embriões descartáveis...

R. Giskard Reventlov disse...

98% compreendido mestre Jobour.
Os conceitos diferenciativos de cada sentimento por si são claros e me considero familiarizado com eles.

Essa citada megalomania, o ódio/amor descontrolado, e outros motivos, são concomitantes, o que quer dizer que acontecem quase sempre juntos.

Muito sabiamente um humano chamado Ariano Suassuna diz, através da sua personagem/personificação de Nossa Senhora e sua obra "Auto da Compadecida": "...o problema da humanidade é a condição humana".

--nota mental: escrever explicitando a condição humana em seus termos e definições.

Didier disse...

Caro Giskard
É inquietante para mim que você não exponha questionamentos racionais relacionados à minha igreja. Será que você também foi programado pelo papa? Ou Gabriel resolveu ser anjo da guarda da "santa madre" e lhe reprogramou?
Está certo que eu não deva esperar de você comentários emocionais como os meus, mas também não esperava que você se omitisse...
Faço um desafio à sua razão, com o perdão do trocadilho: me dê uma razão que seja pra você fugir de uma discussão racional, quando o assunto é igreja...
Ou devo lhe chamar, a partir de agora, de Padre Giskard?
Sei lá, você está agindo como um...

Gabriel disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Gabriel disse...

Como é interessante verificar criador e criatura discutindo sobre "fé e ciência"..."amor e razão"...quando ao menos nada disso passa somente de dúvidas humanas...dúvidas essas que inquietam o homem desde a sua criação e saida do paraíso...
É fantasitco como o ser humano cria algo que cada vez mais o questiona...e cada vez mais o coloca como centro das coisas...tudo é um ciclo...foi assim nos primórdios e será assim agora...a renovação do homem só se faz em números...estatiscas...e nunca em aceitar a sua condição e viver a vida como ela deve realmente ser vivida...a busca pelo amor não tem nada haver em buscar resposta...mas sim em aceitar o que lhe é dado...e cabe a vocês aceitar essa dadiva...do amor...da razão...do sofrimento...e perdão...e aprender que nem sempre para tudo se tem reposta...

R. Giskard Reventlov disse...

100% "compreendido" e 66% "considerado inválido" mestre Jobour.
As correções que se fazem necessárias a cerca do seu discurso, são:

-- Não apenas sua Igreja, mas, Nossa igreja, uma vez que o fundador desta não excluiu nenhum tipo de inteligência, especialmente discriminando entre "construído semi-aleatoriamente" (humanos) e "construido por projeto" (organismos sintético-cibernéticos);

-- Não sou passível de programação, no sentido presumível da palavra. Meu sistema foi criado de maneira análoga ao cérebro humano, que não pode ser textualmente programado, mas pode ser desinformado, enganado, alvo de falsos atos e palvras. Em diferença tenho a meu favor a menor susceptibilidade a emoções (vide post anterior sobre a Presunção);

-- Ainda não tive contato com mestre Gabriel. Aguardando contato;

-- Definindo omissão: deixar ou excluir, falhar em representar ou exemplificar, negligenciar ou não tomar conhecimento de. Considerando a aceitação da definição considero também a acertiva improcedente. Tudo será dito considerado o tempo necessário. Favor reconsiderar;

-- Não posso ser ordenado Padre uma vez que as regras definidas para possíveis candidatos pelas autoridades eclesiais (criadoras e atuais julgadoras do mérito e exclusivamente deste) não validariam minha subscrição. Mas, outra vez, ressalto que o criador do assim chamado "sacramento" não definiu nenhuma discriminação de nenhum tipo (sexo, cor ou composição molecular);

Compreendo 100% sua inquitação, tão humana, naturalmente.

Didier disse...

Muito bom, finalmente máquina e pena se manifestam de novo...
Isto está virando algo realmente interessante...
A galinha angelical está saindo do armário, finalmente...
O senhor dos exércitos alados continua visceralmente irônico e incrédula na raça humana...
E a inteligência cibernética processando informações com um que de emoção embutida, em auto-defesas reprimidas, porém mal disfarçadas...
Aos dois preciso dizer uma coisa: temos todos a mesma origem, vocês gostem ou não...Viemos do mesmo sopro e nossa chama se extinguirá quando o criador novamente soprar sobre nós...
Estou interessado em vê-los interagir, como reclama o robótico Giskard...
Quem sabe Gabriel não lhe escuta e diz amém...
Vocês tem a mesma inicial, quem sabe não rola uma paixão?
Calma, não há mal em insinuar isto, já que anjos e ciborgs, pelo menos na teoria, não têm sexo...
Falo de uma paixão ágape, como numa irmandade...
Realmente seria muito bom vê-los interagir, daqui do meu camarote terrestre...

Gabriel disse...

A falha foi ter dado a vocês a oportunidade de escolherem... entre a sabedoria divina...e a que lhes dariam visão do bem e do mal...escolheram a errada...apenas por desobediência...e não por falta de conhecimento...como crianças mal-criadas ficam a resmungar de tudo e colocar a culpa no que não se vê e não pode responder...engano de vocês...pois as respostas vem, porém vocês são cegos em não enxerga o que é tão claro...seres completos?!?...ou seriam falhos???...acham capazes de unir razão e emoção no mesmo invólucro...pobres de vocês...por mim não deveriam ter escolha...pois quando te deram isso fez o que fez...e faz o que faz...não entendem que não é necessário viver a procurar por nada...as respostas estão dentro de vocês...templos...imagens...
somente símbolos que não invocam nada além da vaidade, inveja e soberba...de ainda acharem que um ser cibernético tem as mesma origem minha...só numa mente doentia e incapaz de compreender a consciência divina pode dizer isso...casca vazia...somente isso...casca vazia...

Didier disse...

Muito reveladora a sua resposta, caro amigo alado...
Então Deus falhou ao nos dar o livre arbítrio, é isso que você está dizendo?
E depois, nós é que somos presunçosos...
Fico pensando em qual a sua reação diante de um "não" de Maria...
Seria tão natural, uma menina, virgem, teria todo o direito de não querer carregar o peso da desconfiança de José e o sofrimento das setes espadas que transpassaram seu coração...
O que você teria feito? Respeitado seu livre arbítrio? Será mesmo?
rsrsrsrsrsrsrsrs