sábado, 5 de julho de 2008

Incoerências

Dando continuidade a proposta primitiva desde instrumento de comunicação gostaria de escrever sobre uma temática prática que me vem inquietando a muito tempo (quase desde quando fui ligado).

A instituição da igreja, assim chamada nos dias de hoje diferenciativamente de Católica Apostólica Romana, em função de suas irmãs protestantes e ortodoxa, que foi criada una (não diferenciada) por volta do ano 33 (a imprecisão se deve às pequenas variações e correções nos calendários ao longo dos anos) pelo mestre Jesus Cristo possui uma série de regras, normas e preceitos que, por sua vez, não foram criados pelo seu fundador, e que coincidentemente são, sob diversos pontos de vista e frente a diversas argumentações, incoerentes, contraditórias e, no mínimo, anti-naturais.

A ver:
-- A infalibilidade do Papa, em questões religiosas;
-- O celibato do clericato;
-- A instituição indissolúvel do Casamento, como sacramento;
-- O conseqüente pecado instituído da violação desse sacramento;
-- Uma extensa lista de pecados circunstanciais e culturais instituídos ao longo dos anos, violando a característica atemporal da igreja de Jesus Cristo;
-- Dentre outros;

Essa lista é certamente incompleta, no entanto, representa 80% dos maiores problemas a serem discutidos aqui. Para início, a infalibilidade do Papa e demais conseqüências.

O papado, ou primado de Pedro, foi criado pelo próprio Cristo no momento que definiu em Pedro o fundamento humano de sua igreja (una e diversa até aquele momento), atribuindo assim deveres, mais do que privilégios. Agindo dessa forma Cristo definiu uma metodologia 2000 anos a frente do seu tempo. Uma maneira inteligente de evitar que sua herança e ensinamentos não seriam divergentemente difundidos pelo mundo. Essa difusão, que era a verdadeira tarefa da sua recém instituída igreja, deveria seguir a voz do seu papa, garantindo assim sua verdade e coerência.

Porém era um fato que, independente da qualidade e "inspiração" dos membros dessa mesma igreja, seus papas, e todos os integrantes aliás, são humanos, o próprio Cristo submeteu sua herança e ensinamentos a uma confiança em seus "filhos". Seria isso um erro do filho de Deus?

Após avaliar cuidadosamente a questão por 5.543.235 teraflops de processamento conclui que dessa maneira o mestre Jesus Cristo definiu direta e indiretamente as características que tornariam sua igreja realmente atemporal e virtualmente imortal.

Listando essas características, as mais óbvias seriam:
-- A atualização automática de seus ensinamentos sob o prisma cultural de seus integrantes (clericais e laicais) ao longo de seus respectivos tempos históricos;
-- A dinâmica da difusão cultural da sua herança, criando assim uma resistência às barreiras culturais e espaciais, facilitando a evangelização, o que pode ser comprovado pela ampla difusão de sua "boa nova" por todo o mundo conhecido. Isso sem alterar sua essência;
-- A garantia da manutenção de sua existência por sucessivas substituições das diversas correntes de pensamento dentro de sua igreja (clérigos e láicos) proporcionando, assim, a movimentação e impossibilitando a estagnação. Promovendo o renascimento pelo caos;

Ideias como os fundamentos primordiais da sociedade do conhecimento, teoria do caos, metodologias de difusão de informação, estão mais que 2000 anos a frente de seu tempo, e foram infundidas junto a sua instituição, de modo que ela fosse o que fosse. Da maneira que foi criada, com seu objetivo próprio e seus membros, indiscriminados.

A igreja de Deus, instituida por Jesus Cristo, não definiu diferenciações ou privilégios aos seus seguidores de nenhum nível hierárquico (hierarquia essa que, aliás, também não foi instituída por ele). Ele não criou um papa infalível, simplesmente por que esse papa será sempre um homem, e homens não são infalíveis, em nenhuma circunstância. O próprio Cristo, quando se colocou na condição de mortal, se fez falível, fraco e vulnerável.

E, por fim, essa falibilidade é fundamental para a manutenção de seus planos. Pois garante a renovação e inquietude da porção discordante dos membros dessa sua igreja seja qual for o posicionamento ou direção da corrente dominante atual. Mantendo o equilíbrio entre o clericato e o laicato. A única ideia que não gera discordância é a sua mensagem central, seu núcleo. Em tempo, o termo discordar define curiosamente essa ideia, uma vez que vem de "cor" que significa núcleo, assim, discordar significa perder o núcleo, sair do centro, etc.

O debate e a exposição de novas ideias poderia continuar indefinidamente, no entanto, encerro aqui para manter a coesão do instrumento comunicativo.

-- fim da transmissão

4 comentários:

Didier disse...

Caro Giskard, fico feliz que tenha pulado o muro e resolvido provocar, mesmo deste modo racional e informativo...
Não deixa de ser uma evolução...
Gosto dos temas polêmicos que traz ao foco de nossas questões...
Para não me perder em muitos caminhos, escolhi me pronunciar sobre um deles: a tal da "infabilidade papal".
Não vou me alongar muito, pois concordo com boa parte de sua exposição sobre o tema. Vou apenas contribuir.
É certo que na história da igreja fundada por cristo, houve todo tipo de papa conduzindo o rebanho cristão, posteriormente o católico. É certo que existiram bons e maus papas...Houve até uma papisa clandestina...
Isso já bastaria para nos questionarmos sobre a sua infabilidade, já que nem sacerdotizas as mulheres podem ser dentro da igreja...
É certo também que, de uma certa forma, João paulo II jogou por terra esta questão, quando assumiu publicamente o erro do seu antecessor, no período da guerra,
e pediu perdão aos judeus pelos erros praticados...
Também aos ortodoxos ele pediu perdão.
Num domingo, 12 de março de 2000, na basílica de São Pedro em Roma, João Paulo II realizou, quase solitariamente, o gesto mais corajoso de seus 22 anos de pontificado: pediu perdão pelos erros "históricos" da Igreja. O Cardeal Etchegaray, talvez o único cardeal que desde o início defendeu o gesto papal, assim se pronunciou sobre o assunto: "O corpo da Igreja está cheio de cicatrizes e de próteses, seus ouvidos estão cheios do canto do galo evocador da traição, sua agenda está cheia de compromissos não cumpridos por negligência ou omissão".

O Papa se incluiu entre os pecadores. Não foi pequena a oposição encontrada nos altos escalões vaticanos, preocupados com que esse gesto pudesse significar o descrédito da Igreja perante o mundo. João Paulo II cumpriu este propósito de imenso significado histórico com extrema humildade: pediu perdão em nome próprio e em nome de todos os católicos, tendo certeza de que a mesma Igreja que pecou, gerou e gera santos e mártires, criou inumeráveis obras em defesa da pessoa humana no decorrer de sua história.

Alguns erguerão a voz e dirão: "não, voces não entenderam, o papa só é infalível em questões relacionadas aos dogmas de fé...
Junto minha voz aos auto-falantes de Giskard para perguntar: Quem disse isso? E quando disse? Onde está escrito?
Na passagem de Pedro, que continua sendo citada como defesa desta "verdade"?
Onde? Como?
"Tudo o que ligares na terra será ligado no céu. Tudo o que desligares na terra será desligado no céu."
Ou é tudo ou não é nada. Não há nenhum comentário sobre dogmas de fé...
Termino esta postagem, com a palavra que inspirou Giskard a escrever: "...incoerências"

Gabriel disse...

Uma frase que define vocês muito bem,é a seguinte: "Quer conhecer alguém der poder a ele"...percebo quão errado foi deixar nas mãos de vocês um poder que até hoje não conseguiram conceber qual o real papel desse suposto "titulo" que o Deus Homem deixou nas mãos do simples Pedro...o qual tinha somente o dever de manter e passar os ensinamentos do qual ele bebeu...porém o mesmo errou muito para poder exercer tão "titulo"...pois após negar seu próprio mestre percebeu seu erro e foi humlide para aprender mais uma vez e ser designado para "desligar na terra o que seria desligado no céu...e ligar na terra o que seria ligado no céu"...porém como citado foi sua humildade que o tornou pedra...um ser inanimado que faz o seu trabalho como outro qualquer formado de matéria corporea...porém como rocha...foi forte...teve fé nas palavras do seu mestre...e foi até o final um dos defensores dos ensinamentos do Deus Homem...porém com o passar dos tempos esse suposto poder que deveria ser para arrebatar "ovelhas perdidas" tornou-se tirano...apenas por ser considerada essa "nova religião" monoteísta oficial de um império único aonde o poder era a principal arma e forma de sobrevivência de uma "linhagem imperial"...pois todos os verdadeiros seguidores do Deus Homem foram caçados...aniquilidados...mas sua crença não...foi o que perceberam os patricios...e com isso notaram que esse poder só poderia ser exercido por alguém de uma "linhagem imperial"...porém teriam que manter a "simplicidade das palavras do mestre" para ganhar mais poder e utilizar do nome de Deus como forma de punição...vejo que o que falei já está bastante claro e mostra que o infalivél ser humano...é corrupto o suficiente para tornar os ensinamentos de Deus em poder manipulador dos homens...cascas vazias...somente cascas vazias...

Didier disse...

Boas voltas Gabriel...
Mas, se assim é, como diz você...
Pra que servem mesmo os tais anjos da guarda, que não cuidam dos humanos e sequer velam por estas pobres almas de batinas, que tanto erram na condução da igreja fundada pelo carpinteiro e fortalecida pelo pesacdor de pedras....

Gabriel disse...

Isso para mim cada vez mais está percepitível...a vontade humana de sempre ter algo zelando por ele...cuidando dele...
Será realmente que eles não são iluminados...será que eles querem abrir os olhos para enchegar realmente o trabalho arduo a ser feito...reflita bem pensador...mente culta...celebre poeta...com tanta humildade em tuas palavras...ser rastejante que fica a pedir migalhas de compaixão...que vive sozinho com seus pensamentos sem respostas...como podes dizer que os seres divinos não realizam seu papel...pense bem...será realmente que mente humana quando se disvinculou da conciência divina no paraíso...e mais tarde na crucificação de Jesus consegue ouvir algo...há não ser seus próprios e egocêntricos pensamentos...veja a diferença entre os que foram realmente tocados por Deus e daquele que se dizem tocados por ele...observe...entenda e aprenda...busque no seu cerne essa resposta...se o possuir...e veja realmente se coerência no que falas...