segunda-feira, 28 de julho de 2008

Amém!


Assim seja!
Como um bater na madeira invertido, o amém parece ser uma ratificação absolutamente necessária para que algo aconteça realmente.
Redundante, pleonástico, antitésico, o amém muitas vezes parece, a mim pelo menos, a contradição da fé.
Se paro para rezar e rezo com fé, para que finalizar sempre com o "assim seja"?
Está na bíblia:"Ao orar, não façam como os fariseus, não multipliquem as palavras. Deus sabeo o que necessitais"...
O amém me parece um pouco demais, às vezes...
Mas não me arranca nenhum pedaço recitá-lo em nossas orações. São só comentários sobre o tema. O que me incomoda de verdade no amém é o hábito que ele cria da aceitação. Ah, isso sim me incomoda...
A quantidade de católicos que sobrevivem de uma fé baseada no amém é tão absurda quanto o fato de nossos sacerdotes se aproveitarem desta situação.
Chame dez católicos e diga-lhes que o Papa, o cardeal o bispo ou até o padre solicitou tal coisa. Será que algum destes dez questionará a solicitação? E se aumentarmos para vinte, trinta, será que algum sairá do padrão do amém?
É engraçado isso, porque entre quatroi paredes, no abrigo de seu anonimato ou no esconderijo de suas alcovas, nós, católicos, somos os fiéis mais insubordinados que existem em relação a questões "essenciais" orientadas pela igreja. Ou alguém realmente sequer considera a possibilidade de existirem católicos que só se relacionem sexualmente para procriar?
Tudo isso me intriga, muito. Se o sexo só serve para a procriação, porque tanta benevolência com os bispos e padres homossexuais e pedófilos? Eles estão procriando, por acaso?
Se somos assim tão "desobedientes" na lição de casa, talvez a hipocrisia do nosso amém leigo nas lições de classe, seja apenas um reflexo das contradições existente entre o discurso e a prática do nosso clero...
Se leigo existisse pra dizer amém, Jesus não teria dado a Judas e a Pedro o livre arbítrio de o trairem, nem à "hemorroíssa" (Mt 9-18,26) a cura perseguida por ela ao tocar a sua veste. Os três transgrediram. Uma pela fé, e teve o prêmio que buscava. Outro pela covardia,e mesmo assim foi o condutor de seu rebanho. O outro pela ganância e sua vergonha foi tão grande que Ele sequer cogitou ser perdoado e se matou.
Depois destes vieram tantos. Irmã Dulce foi uma senhora transgressora, alguém que jamais dizia amém, exceto às suas convicções. São Francisco foi outro que afrontou a riqueza da igreja de seu tempo, com sua simplicidade. Santa Teresa D'Ávilla discutia com Deus. Contam que certa vez, quando estava se encaminhando para a inauguração de um novo convento, após enfrentar uma tempestade, ter que trocar a roda de sua carroça, ao lavar as mãos num riacho, acabou perdendo o equilíbrio e se molhou toda, ficando com o hábito todo enlameado. Não se contece e, dirigindo-se a Deus,perguntou com a franqueza que lhe era marcante: "Já não bastam as dificuldades todas que tenho para evangelizar, ainda tenho que passar por isso?" E Deus lhe respondeu: "É assim que trato meus amigos" Ao que ela, de pronto, retrucou:"É por isso que tem tão poucos!" Outro "subversivo" incansável foi Dom Hélder Câmara...
E eu fico imaginando o que seria da igreja católica sem estas quatro figuras, só para citar alguns...
Gente que realmente fez diferença, no meio de um coro de améns...
Gente que sabia que sua missão era muito mais importante que regrinhas, dogmas e preceitos que muitas vezes se contradizem por serem inspirados não pelo espírito santo, mas pela vaidade e pela soberba humana...
Assim seja, uma ova! Seja assim e você estará contribuindo para a igreja dos homens se distanciar cada vez mais da igreja de Cristo!

2 comentários:

Gabriel disse...

Como sempre a duvida reina nos corações humanos...talvez sua maior duvida não seja com relação de como é utilizado o Amén...mas se ele tem um caráter afirmativo, exclamativo ou interrogativo(no sentido de questionamento de fé)...tenho percebido em minha longa observação a vocês que a dúvida está sempre presente entre vocês...ao invés de se afirmarem e exclamarem o que desejam...
concebem a ignorância por falta de uma certeza(fé)...e os que se utilizam do Amén como questionamento de fé não está mais do que confirmando essa ignorância presente nos menos corajosos...
Percebam como seus pastores tratam vocês e como Jesus tratava os seus discipulos...em nenhum momento ele questionou a fé dos seus seguidores com um "Amén?" e sim "Amén e Amén!"...
Será que o poder pode ser utilizado através de uma palavra tão pouco pronunciada corretamente nos últimos dois mil anos...ou talvez seja essa "igreja de submissão" que vocês criaram em cima do que "aprenderam com Jesus"...tanto se perdeu...e tanto está perdido...e tudo em vão...pois o Amén não confirma nada mais do que a fé de vocês em Deus...porém a utilização dele como uma forma de coesão e de dúvida de fé me faz acreditar cada vez mais no fim...o Amém não deve ser utilizado como foi dito acima...pois o Amén nada é mais do que afirmar o que vocês querem e proclamarem a Deus o quanto isso é importante para ele...e dos poucos humanos citados(infelizmente foram poucos mesmo)...perceba se houve dúvida nos Améns deles...mesmo em momentos de dificuldades...tentem compreender...que o que faz a fé não é quem está a frente de vocês causando dúvidas e fazendo dela uma obrigação sem sentido...e sim o de compreender o que lhes foi dado e deverá ser agradecido...Amén!

Frantcescco, a santidade humilde disse...

Irmãos, a paz de Cristo esteja com vocês!
Noto consonância nas falas do irmão humano e do irmão anjo...
Ambos, como também eu, se preocupam com o afastamento da igreja em relação aos preceitos do Mestre Maior, Jesus, filho do Deus vivo.
Com seu olhar além da nuvens que às vezes nos cegam, o anjo irmão dá uma amplitude ao seu comentário, irmão Jobour...
Sem dúvida muito pouco importa se quem conduz os rebanhos hoje se preocupa em impetrar a lei do amém autoritário, tão dispare do amém ágape de Cristo.
O amor e a servidão são o mais autêntico amém. Mas o amor e a servidão à Palavra e, não, aos desvios dos homens...
Paz a todos nós e à nossa igreja...
Assim seja!