quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Igreja afasta deputado federal da função de padre na PB por defender camisinha

http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u509366.shtml
*colaboração para a Folha Online

O Arcebispo da Paraíba, Dom Aldo di Cillo Pagotto, proibiu nesta quarta-feira que o deputado federal e padre Luiz Couto (PT-PB) exerça a função religiosa. A decisão foi tomada após uma reportagem publicada hoje no jornal "O Norte", da Paraíba, em que Couto defende abertamente o uso de camisinha.

Em entrevista ao jornal, Couto disse o uso de preservativos "é uma questão de saúde pública". O deputado, que é padre desde 1976, também tocou em questões delicadas para a Igreja Católica.

Disse que é preciso combater o preconceito e a discriminação contra homossexuais, defendeu o fim do celibato e, apesar de ser contrário ao aborto, disse que as mulheres que fazem devem receber o devido tratamento médico.

Em nota, o arcebispo da Paraíba disse que as declarações de Couto "provocam confusão entre os fiéis cristãos", além de contrariar a doutrina pregada pela Igreja Católica. Com a decisão, o padre fica impedido de celebrar missas no Estado.

A nota diz que Couto poderia voltar a exercer a função de padre caso faça uma retratação pública. O deputado federal, que está em seu segundo mandato na Câmara, celebra missas, casamentos e batizados na paróquia de São José Operário, em João Pessoa, nos fins de semana.

Procurado pela reportagem da Folha Online, o deputado não foi encontrado para se manifestar.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Igreja católica enfrenta crise moral na Áustria

Le Monde
Laurence Monnot - Em Viena

http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/lemonde/2009/02/22/ult580u3579.jhtm


O próprio cardeal Christoph Schönborn, arcebispo de Viena, admitiu: a Igreja católica austríaca atravessa uma crise e os bispos devem "uma explicação" aos católicos. "Nós também queremos exprimir a esperança de que toda crise também pode ser uma bênção", escreveu o presidente da conferência episcopal austríaca em uma carta pastoral publicada em 16 de fevereiro resultado de uma reunião para discutir a crise, reunindo todos os bispos.

O monsenhor Schönborn tira as lições do mal-estar suscitado por dois episódios particularmente mal vistos pelos católicos, e que acabam de se juntar a um problema mais antigo. O anúncio do dia 24 de janeiro feito pelo Vaticano de revogar a excomunhão de quatro bispos lefebvristas, dos quais um é negacionista, chocou os católicos austríacos e suscitou a incompreensão no mais alto nível da hierarquia.

Em 31 de janeiro, uma nova decisão de Bento 16 acentuou o embaraço sentido diante das decisões da hierarquia católica. Roma anunciou a nominação de Gerhard Maria Wagner como bispo auxiliar de Linz, apesar das recomendações em contrário da Igreja austríaca.

O eclesiástico ultraconservador é conhecido por suas declarações sulfurosas: de Harry Potter, o "satânico", às catástrofes naturais de Nova Orleans ou do tsunami desencadeados pela "poluição espiritual", passando por suas opiniões sobre o homossexualismo, "doença curável"... Diante do protesto suscitado por sua nomeação, ele pediu ao papa que voltasse atrás em sua decisão. O Vaticano não atendeu oficialmente a esse pedido.

A Igreja austríaca, que desde os anos 1990 sofre para se recuperar de diversos escândalos ligados a questões de pedofilia e pornografia dentro de um seminário, não precisava dessa nova controvérsia. Para Thomas Prügl, diretor do Instituto Histórico Religioso da faculdade católica de Viena, essas questões são o ponto culminante de um mal-estar mais geral. Mais de 35 mil fiéis se afastam todos os anos da Igreja austríaca, que já perdeu mais de 1,3 milhão de fiéis desde 1976, e que, segundo ele, sofre de uma dupla divisão: por um lado, entre tradicionalistas e progressistas - cujo peso ele estima em 10 e 15% dos fiéis, respectivamente - , e por outro, entre os padres das paróquias e a própria hierarquia da Igreja.

A "base" progressista encarnada por movimentos como "Nós somos a Igreja" ou "Iniciativa Paroquial" pede por reformas estruturais. Segundo pesquisas, são bem recebidas entre a comunidade católica soluções defendidas para enfrentar a carência de padres, como a abolição da obrigatoriedade de celibato para os padres e a participação de mulheres na liturgia. "O desafio imposto à Igreja austríaca e reconhecido pelos bispos em sua recente carta pastoral é o de levar mais a sério as necessidades da igreja local", avalia Prügl.

Efeito da recente confusão causada pela política de Roma, a Igreja evangélica austríaca, que só reúne 5% da população, contra 68% de católicos, registra desde janeiro um número crescente de pedidos de informação. Foi lançado um apelo pelo boicote ao imposto da Igreja. Na Áustria, as Igrejas reconhecidas são habilitadas a cobrar um imposto sobre a renda de seus fiéis. Se for atendido, esse apelo pode se mostrar um meio de pressão eficaz: mais de 85% das receitas da Igreja provêm desse imposto.

Tradução: Lana Lim